Há pouco mais de dez dias, uma fala de Fernanda Venturini causou alvoroço. Pouco antes ser imunizada contra a Covid-19, a ex-levantadora da seleção feminina de vôlei, no Instagram, disse que, mesmo contra a vacina, ali estava para receber sua dose e, assim, poder viajar o mundo. Tomou a Pfizer, considerada por ela a “menos pior”, e, horas mais tarde, fez nova postagem dizendo que foi mal interpretada em seu story.
Fernanda, cidadã que é em um país democrático, tem direito de se expressar livremente em suas redes sociais. Mesmo que, polarizados como temos sido, ela desagrade boa parte de seus fãs. Como ex-atleta, referência e até formadora de opinião, no entanto, expor um posicionamento contrário ao que cientistas, em anos e anos de estudo sobre vacinas, apontam a respeito da eficácia ao tratamento de doenças, não soou legal. Tanto é que ela mesmo se retratou depois, alegando, inclusive, que apresenta um programa sobre saúde no YouTube e sabe da importância da imunização.
Além de todo o contexto científico, político e ideológico envolvido, o vídeo de Venturini suscitou também uma outra questão, muito grave ao esporte. Em algumas críticas à ex-jogadora, houve quem dissesse que sua postura exemplificasse o comportamento geral dos atletas de vôlei. Ou até mesmo de todo o desporto brasileiro, “marcado por profissionais alienados”.
Ao se posicionar contrária ao modelo até então responsável por diminuir casos de coronavírus mundo afora – ou ao ser mal interpretada, como apontou -, a medalhista de bronze em Atlanta 96 não só passou do ponto como promoveu uma generalização de sua classe. Obviamente, há quem pense como ela. E há quem acredite no contrário. Dentro e fora do vôlei. Do atleta profissional ao vendedor de pastel na esquina. Mas pelo status que ostenta, somado ao pré-conceito pelo qual sofre o esporte, Venturini prestou um desserviço aos seus colegas de profissão. Alguns, como Renal Dal Zotto, hoje no lugar de Bernadinho, com quem a ex-jogadora foi casada, acometidos gravemente pela Covid-19.
Que o importante papel exercido pela ex-levantadora, uma das responsáveis pela evolução do voleibol feminino nos últimos anos, seja sobreposto a este episódio da vacina. Que aquela seleção, de Leila, Virna, Márcia Fu, Ana Moser – essa tão engajada com causas sociais atualmente – não seja associada ao vídeo publicado na semana passada. E que atletas se conscientizem para a importância de suas palavras. Justamente para não serem rotulados como alienados ou para não entrarem nessa generalização que costuma ser feita.