Abro este texto, leitor, me desculpando por não conseguir cumprir o objetivo ao qual me propus, que é tentar fugir do assunto coronavírus. Afinal, para a nossa saúde mental, tanto a minha quanto a sua, é necessário que esqueçamos um pouco deste mal que tanto nos atribula há mais de um ano.
A coluna poderia ser sobre a boa vitória rubro-negra na altitude de Quito, com um Flamengo que, aos poucos, vai melhorando seu futebol. Do ótimo primeiro tempo dos cariocas no Equador, que abriram 2 a 0, com a frieza de Gabigol cara a cara com goleiro e da excelente troca de passes, finalizada no golaço de Bruno Henrique. Mas eis que, no início da fase final da partida de quarta, uma notícia mudou os rumos da noite – e por que não dizer deste texto.
Paulo Gustavo não era atleta e muito pouca relação tinha com o esporte. Divertido como sempre, chegou a tuitar certa vez que a opção por sair com uma camisa do Fluminense não significava preferência pela modalidade ou pelo time das Laranjeiras. “Gente, eu vou sair com a camisa do Fluminense hoje, mas eu não sou Fluminense e não entendo de futebol. É só porque eu fiquei magro”, explicou nos 140 caracteres.
O humorista, do qual eu não era tão fã assim – que justificasse minha profunda tristeza ao saber do óbito -, não gostava de futebol. Mas o fim da terça ficou sem graça. Talvez porque não dê para achar que o esporte tenha seu mundo paralelo. Ou, quem sabe, porque humor e esporte sempre acabam nos prendendo. O jogo pode estar ruim, mas você acaba acompanhando. Podemos até falar que não assistiremos mais ao nosso time, mas não há como. No caso das personagens do ator, idem. A voz gritada de dona Hermínia irrita. Mas atrai.
Ver os sucessivos deslocamentos de equipes de futebol pelos países da América do Sul enquanto os noticiários do continente ainda são pouco animadores gera uma espécie de constrangimento frente a uma doença que ainda segue sua matança. Gritar gol é um desafogo, mas também uma explosão embaraçosa ao se pensar que ao lado podemos ter vizinhos vivendo o drama da Covid-19. Acompanhar o quadro de saúde de algum profissional do esporte, como Renan Dal Zotto, aflige. Tal como Paulo Gustavo ou qualquer outro conhecido – às vezes muito mais próximo.
Uma possível analogia à perda do artista seria saber repentinamente da saída precoce de um jogador do seu time. O cara vem numa ótima fase, conquistando seu espaço e, de repente, precisa deixar a equipe. No caso do esporte, ainda há a chance de um retorno no futuro. Com Paulo Gustavo, não. Não há volta.
O Flu, aleatoriamente escolhido por Paulo, prestou suas condolências aos familiares e aos amigos. Assim como fizeram vários outros clubes. Uma aproximação não pelo amor. Mas pela dor. Dor que tanto vem debochando da gente.