Na semana passada, depois de chegar em casa após o trabalho, deslizei meu feed do Facebook pela última vez no dia e deparei-me com uma postagem sobre a morte do jornalista Rafael Henzel, que me doeu profundamente. Uma partida tão inesperada quanto a do meu pai, que completou 90 dias nesta quarta (3). Rafael aos 45 anos, e meu pai aos 56. Confesso que fiquei por um bom tempo analisando as diferenças e semelhanças entre as duas perdas. Como na canção Tempo perdido, da Legião Urbana, “tão jovens”.
Henzel, um gaúcho apaixonado pela Chapecoense. Meu pai, um mineiro fanático pelas cores do Fluminense. O primeiro, um radialista eufórico, cuja narração do lance da defesa de Danilo contra o San Lorenzo, nos minutos finais da partida entre brasileiros e argentinos na Arena Condá, que garantiu a classificação do time catarinense à decisão da Copa Sul-Americana, ficará imortalizada. O outro, um torcedor de sofá igualmente fervoroso, que vira e mexe era repreendido pela esposa, que não entedia o porquê dos gritos e pulos em frente à TV. O leopoldense, depois de recuperado, voltou a curtir um futebol com os amigos. O tabuleirense andava preferindo as corridas de rua.
Duas histórias entrelaçadas pelo esporte. Rafael Henzel, obviamente muito mais conhecido. Sobreviveu à mais terrível tragédia do esporte brasileiro e, junto com Alan Ruschel, Neto, Jakson Follmann e os outros dois tripulantes, representam, mesmo para quem não acredita muito em fé, destino, sorte ou seja o que a sobrevivência deles tenha sido, que uma força maior pairou sobre eles naquele 28 de novembro de 2016. Não chega a ser uma grande obra, mas “Viva como se estivesse de partida”, escrita pelo jornalista, não deixa de ser uma leitura bem interessante e um legado. Joaquim, meu pai, não escreveu nenhum livro, mas, guardadas as devidas proporções, também deixou sua herança: se hoje a filha gosta tanto de esportes, há um dedinho dele.
Se hoje escrevo essa coluna, é por que Henzel e Joaquim, um jornalista e um torcedor, me inspiraram. É por que, parafraseando José Lins do Rego – que escreveu sobre o Flamengo, mas cuja descrição se aplica ao mundo esportivo como um todo – há no esporte “esta predestinação para ser, em certos momentos, uma válvula de escape para as nossas tristezas.”
A dor fica, mas o esporte vai ajudando a transformá-la em saudade.