Três títulos em disputa e nenhum conquistado. Desde sábado, após a perda da Libertadores para o Palmeiras, em toda roda de conversa, grupo de WhatsApp ou noticiário esportivo, a pergunta é como o Flamengo deixou escapar, em tão pouco tempo, todas essas chances de gritar campeão. Para muitos, encerrar a temporada em segundo lugar no Brasileirão, com o vice-campeonato da América e entre os quatro semifinalistas da Copa do Brasil é motivo de vexame. E, de fato, é. Pelo investimento feito, pelo nível técnico dos jogadores e, principalmente, pelo sentimento de superioridade, que chegou a se transformar em soberba, após aquele épico 2019, o gosto que fica realmente é amargo. Ou o famoso cheirinho, como zoam.
Mas, por mais que muitos torcedores, alguns meus amigos e familiares, tenham sofrido com o tolo gol de Deyverson e com as tantas presepadas realizadas pelo clube carioca, dentro e fora de campo, tragédia não é um bom termo a ser utilizado para resumir a decisão do último sábado. Afinal, nesse emaranhado de emoção vivido por palmeirenses, flamenguistas e antis, pouco se falou sobre uma tragédia real, no sentido literal da palavra, que também marca a semana.
Há cinco anos, muitas famílias e toda uma cidade lamentavam não a perda de um campeonato, mas o fim de todo um elenco, do goleiro Danilo ao presidente Sandro Pallaoro. Se Andreas Pereira “entregou” o jogo na prorrogação, a LaMia impediu que ele sequer começasse para a Chapecoense naquela decisão de Sul-Americana. E, se para nós da imprensa foi duro passar o dia vivendo toda aquela comoção de ir noticiando os mortos, inclusive a do juiz-forano Marcelo, a família do zagueiro sofria ali um golpe impossível de ser mensurado. Algo tão maior do que qualquer outra perda que você tentar imaginar.
Daquele 29 de novembro de 2016 para cá, dentro de campo, a Chape também sucumbe. Neste ano, teve seu rebaixamento matematicamente confirmado a sete rodadas do fim do Brasileirão, marca negativa que somente o América-RN obteve. Com 15 pontos em 35 rodadas, pode terminar com o pior aproveitamento da história do campeonato. Fora das quatro linhas, familiares das 71 vítimas seguem desamparados, na busca por indenizações.
Um luto eterno que passa desapercebido em meio ao burburinho da glória eterna da Libertadores. Uma tragédia real, em todos os sentidos da palavra. E impossível de ser esquecida.