“Socorro! Minha mulher não sabe ejacular!”
Com esta frase, Márcio*, que tinha 29 anos na época, iniciou sua primeira sessão de terapia de casal.
Flávia*, 32, era sua noiva.
Uma mulher lindíssima!
Mulata, cabelos cacheados, muuuiiiito alta! (O tipo de pessoa que dá trabalho quando chega aqui. Minha “altitude” me obriga a um alongamento forçado aqueeeele abraço caloroso no início e no final da sessão! Hahaha… Mas, eu não abro mão deles! São uma espécie de combustível…).
Márcio, também era bonito e elegante.
Pele negra, olhos amendoados, musculoso…
Ela era dona de um salão de beleza.
Ele era militar.
“Doutora” … – iniciou Flávia.
“… preciso que você faça meu noivo entender que mulher não ejacula!”
“Me ajuda!”
“Esse homem me tortura toda vez que temos relação” …
“Durante a transa ele fica ‘esperando’ o momento da minha ejaculação.”
“Explica pra ele! Eu já tentei um milhão de vezes! Não aguento mais” …
Márcio se pronunciou com raiva:
“Como mulher não ejacula? Tooooodaaa mulher ejacula! Menos você, né?”
“Eu conversei com amigos do quartel.”
“Perguntei para um monte de homens lá”.
“E as respostas foram unânimes!”
“As mulheres de tooooodos ejaculam!
“Só a minha que não” …
Nesse momento, Flávia já se encontrava em prantos…
Márcio tinha o tom de voz bastante grave.
Falava com muita firmeza, mas, com certa rispidez.
Habilidades e hábitos desenvolvidos, provavelmente, ao longo da carreira militar…
“Eu acho que não tô pedindo naaaada demais, entendeu, certo?” – continuou ele.
“Só quero uma mulher ‘normal’!”
“E o que é uma mulher normal para você, Márcio?” – perguntei.
“Pode ter certeza que não é uma mulher que não sabe ejacular.”
Neste momento, comecei a entender a dor daquele homem.
Sua mente acreditava que, sexualmente, homens e mulheres ‘funcionavam’ do mesmo jeito.
Sentia-se injustiçado por acreditar não ‘ter’ algo que ‘todos’ homens tinham.
E para piorar:
Márcio acreditava que, se Flávia não ejaculava, era porque ele não era capaz de fazer a noiva sentir isso.
Assim, depois das relações, sempre se sentia frustrado e com uma perturbadora sensação fracasso.
Mas, o comportamento inadequado de Márcio, fazia com que Flávia se sentisse derrotada também…
Ela estava desesperançosa, angustiada e magoada.
E como acontece quando um casal tem problemas em qualquer área da vida, Flávia começou a evitar relações sexuais com o noivo.
Porém, a data do casamento se aproximava…
“Eu não tenho mais certeza de que quero me casar com ele, Elisangela.” – disse Flávia, olhando para a janela… Parecia imaginar seu, futuro…
“EU QUE NÃO TENHO CERTEZA SE QUERO ME CASAR COM UMA MULHER QUE NÃO CONSEGUE NEM EJACULAR! VOCÊ ME FAZ SENTIR PÉSSIMO!” – disse Márcio, praticamente, gritando…
“Márcio, por favor, vamos tentar manter a educação e a elegância…
Aqui não é um cenário de guerra e sim, um espaço terapêutico.
Nosso objetivo é ajudar vocês…
Vamos identificar as dificuldades, desenvolver a inteligência emocional e criar soluções que tragam a alegria de volta” …
“Tudo bem pra você?”
“Tudo bem!” Me desculpe!” – ele respondeu.
Mas, o olhar dele dizia:
“Sorte a sua, D. Psicóloga, eu não estar com minha metralhadora neste exaaaato momento!”
Enfrentei o olhar e continuei…
“Márcio, me explique melhor, por favor” …
“Estamos falando da mesma coisa?”
“O que você quer dizer quando afirma: “Minha mulher não sabe ejacular?”
“Você não estaria falando de orgasmo?”
“Sabe? Aquela espécie de ‘mini convulsão’ que popularmente chamamos de “gozo”?
“Usando o português claro: Aquela hora que a gente ‘vira o zoinho’?”
Pela primeira vez, Márcio sorriu…
“Não, Elisangela!”
“Virar o zoinho ela vira, ela só não consegue ejacular” …
Eu não sei quantas vezes ouvi essa frase…
E ele persistia na ideia…
Então, vamos lá…
“Qual é a reação que espera de Flávia quando vocês transam?” – perguntei.
“Espero que também saia dela aquele líquido esbranquiçado, de cheiro forte, entendeu? Certo? (Ele tinha esse hábito. Sempre usava essas duas palavras no final das frases).
“Mas nunca saiu… O que prova que ela não me deseja, não sente tesão e não me ama… Entendeu, certo?”
Oi????
Aí sim! Tive clareza de que se tratava de um equívoco conceitual.
Apesar de ser um cara inteligente, Márcio era vítima de uma crença sexual limitante.
Para o militar, a resposta sexual feminina deveria ser idêntica à resposta sexual masculina.
#SQN!
Ele esperava que tudo que acontecia no corpo dele, também acontecesse no corpo dela.
Assim como Sofia*, a senhorinha fofa da história da semana passada, Tinha um buraco no meio do lençol…, Márcio também precisava urgentemente receber informações adequadas sobre Sexualidade Humana.
Talvez, você pense:
“Ok! Mas, Sofia* tinha 93 anos…
E um rapaz de 29?
Oficial do exército. Bem informado. Como pode não saber isso?”
‘Podendo’, meu nobre leitor…
Costumo dizer que três elementos são indispensáveis para uma vida sexual plena:
- Informações científicas.
- Sabedoria para usar essas informações.
- Comunicação Assertiva entre o casal.
“Você acha que com a Terapia Sexual, minha mulher vai aprender a ejacular?”
Perguntou ele.
“Mulheres não ejaculam, Márcio” …
“Pelo menos não do jeito que você está pensando” …
O olhar de “vou dar na sua cara”, voltou…
Novamente enfrentei o olhar intimidador e segui firme:
“Ejacular significa ‘derramar’. No caso do homem, ele expele o tal líquido esbranquiçado que você falou.”
“Este líquido chama-se sêmen… E no homem o momento da ejaculação coincide, normalmente com o momento do orgasmo.
“Parece que você fica esperando que, no momento do orgasmo de Flávia, ela também ‘derrame’ algo.”
“Teria você assistido algum filme erótico onde viu a protagonista ‘esguichar’ horrores de líquido durante o orgasmo?
“O famoso mas, controverso, ‘Squirt’?
“Há casos de mulheres que realmente conseguem isso.”
“Mas, não são todas e isto não deve ser uma obrigação.”
“Aliás, nem o orgasmo deveria ser perseguido do jeito que é, coitado.”
Orgasmo e/ou ejaculação não deveriam ser o objetivo do sexo, e sim, consequência de uma transa muuiiitooo boa…
“O ideal é a gente se entregar ao amor, focar nas sensações e deixar acontecer” …
E assim, fui tentando ‘convencer’ aquele ‘ser’…
Flávia mudou a direção do olhar…
Passou a olhar novamente para o noivo.
Sua fisionomia parecia dizer:
“Viu? Acredita em mim, agora?”
Seguimos o processo durante os meses seguintes…
Márcio era ‘cabeça dura’… Teimoso que só…
Às vezes, empacava igual cavalo velho quando a gente tenta fazer o bicho seguir por um caminho que ele não está acostumado…
Mas, aos poucos foi aceitando as novas informações.
Estas libertariam sua mente…
Uma a uma, fomos derrubando suas crenças limitantes …
Trabalhei a Comunicação Assertiva do casal.
Eles aprenderam a falar o que sentiam… Sem ofensas… Com educação, elegância e empatia.
Ele já não alterava a voz durante as sessões…
E eu não tinha mais medo de ser fuzilada por aquele olhar…
Ok! Tudo bem se ninguém ejacular!
Com o passar do tempo as sessões foram ficando mais leves…
A comunicação entre o casal, cada vez mais assertiva.
Agora eles riam!!!
Até na sala de espera!
Numa sessão, Márcio contava sobre uma ‘peripécia’ sexual do casal.
Ia contando a história e dizendo:
“E aí” … E aí… E aí”…
Em um momento, propositalmente o interrompi e completei a frase:
“E aí… ela ejaculou!”
A gargalhada foi geral.
Márcio concluiu dizendo:
“Deixa de ser boba, Eli, ela não tem obrigação de ejacular!”
“Aliás, nem eu” …
Eu me levantei e aplaudi Márcio de pé…
Igual maluca, gritei:
“Uhuuuuuuu! Muito bom!!”
Também descobri que Flávia não tinha muita habilidade em demonstrar afeto.
Não abraçava com facilidade, não falava ‘EU TE AMO’ e beijos de novela só rolavam na hora do sexo.
Isso incomodava muito Márcio.
Ela treinou bastante e superou essas dificuldades que vinham de infância…
A verdade era que Márcio não queria apenas ‘ver o tal líquido esbranquiçado sair’ de Flávia.
O que ele desejava era sentir era o AMOR da noiva entrar por sua boca, seus ouvidos, sua pele…
Quando essa ‘mágica’ acontece, o que menos importa são ‘líquidos’ que saem dos corpos…
Porque são as emoções que entram e ficam eternas na memória afetiva daqueles que amam…
O que o ser humano busca é sentir-se vivo!
Vis l’amour!!
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