Chegamos a última semana de janeiro. Dando sequência ao artigo anterior onde falamos sobre a saúde mental materna no mês da campanha janeiro branco, hoje falaremos sobre perda gestacional e as consequências para a saúde mental da mulher.
De acordo com o estudo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology as mulheres experimentam altos níveis de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão após a perda precoce da gravidez. O sofrimento diminui com o tempo, mas permanece em níveis clinicamente importantes aos nove meses.
As perdas no início da gravidez são comuns, mas suas sequelas psicológicas são frequentemente negligenciadas. Estudos anteriores estabeleceram vínculos entre aborto e sintomas precoces de ansiedade e depressão. No entanto, a incidência de sintomas de estresse pós-traumático e a resposta psicológica específica a gestações ectópicas não foram investigadas.
É muito importante investigar os níveis de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade em mulheres nos nove meses após a perda precoce da gravidez, com foco em aborto espontâneo e gravidez ectópica. A morbidade em um mês foi comparada a um grupo controle em gravidez saudável.
Ou seja, o estudo evidencia que um ano depois de uma perda gestacional (gravidez ectópica ou aborto espontâneo) uma em cada seis mulheres tem estresse pós-traumático. No primeiro mês depois da perda, 29% delas preenchem critérios para estresse pós-traumático, 24% apresentam ansiedade moderada a grave e 11% sofrem depressão moderada a grave.
Embora o sofrimento decline com o tempo, permanece significativo. Depois de nove meses, 18% sofrem estresse pós-traumático, 17% têm ansiedade moderada a grave e 6% têm depressão moderada a grave.
É fundamental a atenção à saúde mental das mulheres que passam por perda gestacional. Infelizmente muitos profissionais não estão alertas para o impacto da perda e tentam minimizá-la com palavras e expressões inadequadas. Não há nenhum conforto em dizer “era apenas um embrião/feto”, “ainda bem que foi no comecinho”, “melhor do que vir um filho com deficiência”, são todos comentários que não consideram a dor da perda quando a mulher já significou como “filho” aquela gestação. Essas frases não consolam.
É fundamental ter empatia com a dor e respeitar o luto, dando suporte emocional e estando atento à presença de depressão, ansiedade e sintomas de estresse pós-traumático nos meses que se seguem.
Para completar, muitas dessas mulheres ainda sofrem violência obstétrica quando atendidas nos serviços de saúde.
Os especialistas em psicologia não costumam tentar mensurar a dor do próximo, mas existe uma opinião quase unânime entre muitos deles: o luto materno pode ser considerado uma das maiores dores do mundo. Entre as várias questões que envolvem essa ruptura está o fato de a mãe, diante da visão imposta pela sociedade, exercer o papel fundamental de cuidar e proteger o filho. Com a perda, o sentimento de fracasso nessas funções acaba por se sobressair.
O luto é singular para cada mãe. Apesar de ser intenso, não vai ser toda mãe que vai responder da mesma forma à perda de um filho, vai depender de muitos outros fatores. Mas é certo que a superação passa, e muito, pelo reconhecimento da dor. O primeiro passo para superar é reconhecer que, de fato, a saudade vai ser grande e que o sofrimento vai existir.
Ainda dentro da superação, procurar ajuda em grupos de apoio também é uma alternativa para aliviar a dor. Além disso, familiares e amigos se tornam aliados nesse período. Muitos evitam tocar no assunto próximo às mães, mas é importante abrir espaço para falar sobre o assunto, até porque muitas vezes a mãe sofre mais em não falar, achando que as pessoas esqueceram do filho e ela se sente na responsabilidade de manter a memória sempre viva. A mãe tem que ter a segurança de que não vai esquecer, apenas vai ter que ressignificar esse vínculo e aprender a ver esse filho de uma forma diferente.
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Referências: https://www.ajog.org/article/S0002-9378(19)31369-9/fulltext?fbclid=IwAR2cXtaVkxikGV-6n7WmXcclH1Kjb6IVa7zCqlei3zBvcg82l4FR8IL1lGU