Muitas grávidas afirmam que “esquecem” de coisas facilmente ou que se sentem mais emotivas durante a gestação. Geralmente citam a gravidez como responsável por esse quadro.
Muitas mulheres de fato se sentem mais esquecidas e com a memória mais fraca – e essas sensações começam a se manifestar ainda no primeiro trimestre da gravidez. A explicação para tudo isso está em fatores biológicos, e também nos emocionais.
Pesquisa divulgada no periódico Nature Neuroscience comprovou que a perda de memória é instantânea durante a gravidez e no pós-parto, e que engravidar ajuda a tornar o cérebro mais jovem e especializado no sentimento de empatia.
Isso faz com que as transformações gerem vantagens às novas mães como ajuda para identificar as necessidades do bebê, ficar mais atenta a potenciais ameaças sociais e se aproximar mais do criança.
Segundo o estudo, o cérebro humano daquelas que estão gerando um bebê diminui consideravelmente, ou seja, a massa cinzenta se comprime durante a gravidez. Mas antes que a maioria das mães se desespere, essa notícia não é necessariamente negativa. Aliás, muito pelo contrário.
As áreas do córtex frontal e temporal e linha mediana sofrem um movimento de redução, mas justificam a máxima de que tamanho não é documento: um cérebro menor pode ser mais especializado em determinadas funções, e é exatamente isso que acontece com as gestantes. Essas regiões estão diretamente ligadas ao sentimento de empatia. Ou seja, o corpo humano é tão magicamente perfeito que se incumbe de realizar essas modificações para facilitar a criação de vínculo entre mãe e filho, com o objetivo de se especializar para o exercício da maternidade.
O estudo foi realizado com 20 participantes, na Universidade holandesa de Leiden. Sinapses fracas, como são chamadas os locais dos neurônios onde acontecem as transmissões de impulsos nervosos, cederam espaço para novas formulações mais eficientes e especializadas. As transformações foram notadas por exames de ressonância magnética e ficaram visíveis durante o parto, além de se estenderem dois anos após terem dado à luz. Ainda não foi apresentada nenhuma mudança no campo cognitivo, derrubando o tabu de que a gravidez afeta negativamente a capacidade cognitiva das mães.
De acordo com estudos ministrados na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, as gestantes podem apresentar falhas de memória durante a gestação e logo após o parto. Segundo Liisa Galea, uma das neurologistas à frente das pesquisas, a justificativa está no fato de que a gravidez e a maternidade são eventos dramáticos, mas não no sentido negativo da palavra. É um tempo de transformações profundas, o que acarretam, invariavelmente, consequências duradouras para o cérebro humano.
Ainda de acordo com essa pesquisa, a perda de memória é temporária, Num estudo em animais, as ratinhas que tiveram filhos se saíram melhor em testes simples de aprendizagem e de memorização, quando comparadas àquelas que não tiveram. Portanto, os hormônios secretados durante a gestação, além de preparar o corpo para gerar uma vida, são capazes de proteger um dos órgãos mais importantes do corpo humano: o cérebro.
Referência: A gravidez envolve mudanças duradouras na estrutura do cérebro humano. Natureza Neuroscience, 20 , 287-296, publicado em: http://dx.doi.org/10.1038/nn.4458.