É óbvio que a tomada de decisão nas quatro linhas é dos 22 jogadores em campo. Mas ela representa muito mais do que uma simples escolha, intuitiva ou não. Ela é, hoje, mecanizada na maioria das vezes, pelos trabalhos nos treinamentos que devem priorizar a repetição para a assimilação dos movimentos. Menos inspiração, mais transpiração, pela característica da maior parte das equipes, compactadas em blocos baixos e que transformam a zona de combate no campo, um espaço menor do que uma quadra de futsal.
Por isso, com um cenário como o de Flamengo x Cuiabá é cada vez mais encontrado aqui no Brasil com a qualidade defensiva vista – o que também acontece com clubes que enfrentam o Atlético-GO, em que uma equipe tenta furar duas linhas congestionadas e muito bem preparadas para ter superioridade numérica no setor da bola, a função de treinador ganha importância. E temos visto, em exemplos recentes, o quanto técnicos podem melhorar equipes de acordo com as características deles e dos jogadores.
Defendo que cada treinador tem suas valências naquelas discussões que sempre caem nas comparações da nova safra, de profissionais mais teóricos, com os medalhões, liderados por Luxa, Felipão e Abel Braga. Queimei minha língua com Renato Gaúcho, por exemplo. Entendia que sua chegada ao Rubro-Negro traria mais malefícios do que rendimento, afinal vejo o ex-atacante como um gestor de grupo, mas carente de conhecimento tático para ler jogo e propor formatações modernas, demandas do atual futebol e do elenco rubro-negro.
A ineficácia contra o Cuiabá parece ter sido apenas um deslize. O Flamengo de hoje tem sido envolvente de uma forma que lembra até o de Jorge Jesus. Ponto para Renato, que não é o único exemplo. Fernando Diniz, no Vasco, renovou as esperanças do torcedor com um time que não jogava futebol desde a saída de Ramon Menezes. Enderson Moreira, no Botafogo, lida com irregularidade produtiva agora, mas merece elogios pela eficiência alvinegra no segundo turno da Série B, que faz do Glorioso um candidato ao título – e não apenas um dos protagonistas na luta pelo acesso.
Mas todos estes casos são específicos. O elenco do Flamengo mostrou precisar de um abraço, dado por Portaluppi; o do Vasco, de um choque, providenciado por Diniz; e o do Botafogo, de organização para evidenciar pontos fortes, como a individualidade de Chay e a força de Navarro.
Sorte das diretorias? Infelizmente, ainda acredito que sim. Mas espero queimar minha língua novamente.