Mais que um futebol estético, Jorge Jesus e Jorge Sampaoli intensificaram as avaliações – estimuladas por jornalistas esportivos – de que os técnicos brasileiros estão ultrapassados. Generalizar nunca é o caminho ideal. Temos treinadores qualificados para atuarem na primeira divisão nacional – casos de Tiago Nunes, em conversas bem avançadas para dirigir o Corinthians para 2020 -, bem como Roger Machado, do Bahia. Contudo, este não é o ponto que levanto agora.
Há tempos me sinto incomodado com a qualidade dos programas esportivos brasileiros. Não somente pelo investimento em sensacionalismo e entretenimento raso, mas pela ausência de análises profundas das equipes; do trabalho dos mesmos treinadores criticados; e de atualização também dos críticos. Sempre há exceções. Mas como o jornalista Leonardo Miranda, do Globoesporte.com, abordou nesta terça, “discutimos demais as sensações do jogo. Ou é bonito, ou é feio. Ou é bom, ou é ruim. Não há muitas discussões sobre conceitos, ideias, metodologias. Todo mundo sabe que o futebol do Flamengo é bonito, mas ninguém sabe de onde vem.”
Quantas vezes você viu, no Brasil, um programa esportivo analisar a intensidade flamenguista quando recupera a bola? Como a linha defensiva rubro-negra se comporta, sistematicamente, com e sem a posse em cada momento do jogo? E a lentidão botafoguense nas transições? A limitação ofensiva das equipes de Abel Braga e Mano Menezes, mesmo com elencos caros?
A questão é que o sarrafo também deve ser colocado lá em cima nas avaliações. É óbvio que a memória afetiva e o conhecimento histórico do futebol brasileiro são extremamente valiosos. Mas também há uma necessidade de que os profissionais que trabalham com a opinião se qualifiquem.
O torcedor quer ser contagiado pelas brincadeiras na empolgação de uma sequência de vitórias, possíveis contratações, títulos. Óbvio. Mas também quer entender os motivos táticos que, sempre somados à capacidade dos atletas, fazem de um time dar liga ou não. O futebol mudou. Os treinadores brasileiros, em sua maioria, não. E os críticos?