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De todos, pai: Álvaro Augusto e suas lições de amor

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Colaborador da Amac por mais de 30 anos, Álvaro construiu sua trajetória de professor exercitando, sobretudo, o caráter paternal, despertado primeiro por João e resgatado, agora, pelo pequeno Eduardo (Fotos: Leonardo Costa)
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Talvez não haja mesmo palavras que expliquem o que é ser pai. De tão gigante o termo, resta indizível. Álvaro Augusto José de Freitas deparou-se com a questão, pela primeira vez, aos 30. Três anos mais tarde, foi novamente confrontado com a palavra que é, sobretudo, missão e condição. Agora, aos 52, vivencia a terceira chegada a confirmar-lhe o título de pai. Aprendeu a ser, só não foi ensinado a perder. “Ainda fico emocionado, ainda tenho vontade de chorar, mas é um choro diferente do de dois anos e sete meses atrás. Naquele dia foi como se vivesse um sonho. Pensei que acordaria, e tudo estaria normal. Precisei ser forte para todos que estavam a minha volta. No meu primeiro ano, pensei muito na dor dos outros. Agora, procuro um tempo para a minha saudade. Passa? Nunca. O remédio é levar o sorriso do Pedro para onde eu for”, diz o homem, que no dia 15 de janeiro de 2016 despediu-se do filho do meio, então com 16 anos. “Foi uma pancada muito forte na vida de todo mundo. Dois dias depois, um grupo de amigos veio com a associação montada para mim, com toda a parte burocrática e jurídica pronta”, recorda-se ele, que hoje coordena a Associação Pedrinho, sua resposta para a dor que sente e as dores que o mundo também sente.

“Trabalho com criança e adolescente há mais de 30 anos, já coordenei e trabalho no projeto Curumim, atendendo crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. A ideia da associação, então, é fazer a ponte entre as pessoas que precisam e as que querem ajudar. A ideia da associação não é ser a maior, mas a mais feliz. Ninguém quer fazer milagres, mas preservar a memória do Pedro, um moleque feliz, que pensava em skate 24 horas por dia. Ele era um talento puro, em todos os esportes. E o skate estava na vida dele com mais força, desde pequeno. Um dia ele chegou em casa com uma calça, uma camisa, um óculos e um tênis, tudo na caixa. Eu falei: ‘Pedro, onde você arrumou isso?’. E ele me respondeu: ‘Relaxa, pai, ganhei num torneio!'”, reproduz, sorrindo, o homem que, como o filho, sempre teve no gesto lúdico o fôlego. Álvaro foi criado no Bairro São Mateus, ao lado de dois irmãos e dos pais – ele dono de uma firma de construção, “um peão de obra”, e ela dona de casa.

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Menino ainda, passou no concurso para estudar na concorrida Escola Estadual Sebastião Patrus de Sousa. No ginásio, ganhou uma bolsa de estudos num famoso cursinho da cidade e conseguiu ser aprovado para o curso de educação física. Recém-formado, aceitou um convite para integrar um projeto social municipal. “Logo que cheguei, encontrei algumas pessoas já trabalhando, todas muito competentes. O projeto estava começando, e eu não sabia o que ia fazer, muito menos o quanto eu ficaria apaixonado pelo trabalho. Hoje lido com a terceira geração. A questão da violência e dos conflitos sociais envolve qualquer um, eles mais pela vulnerabilidade a que estão sujeitos, mas sem fazer pesquisa te falo que a maioria é gente de bem. Sempre dei muito carinho, mas recebi muito mais. Não tenho grana, sou um professor duro, ralo demais, mas o amor que conquistei ninguém nunca vai me tirar”, emociona-se.

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Carinhosamente chamado de pai por diversos meninos e meninas da periferia da cidade, Álvaro, que há cerca de 40 dias tornou-se pai do pequeno Eduardo, carrega consigo o comprometimento de quem fala do chão após ter nele pisado. “Se for na periferia comigo, vai levar um susto com o carinho que recebo. Na Vila Olavo Costa, de onde só ouvimos falar de coisa ruim, morte, tráfico, violências, conheço gente muito boa. Lá é uma comunidade maravilhosa, que amava o Pedro. Ele ia cortar cabelo lá, fazendo uns cortes estilosos. Nos meus 30 anos de projetos sociais, aprendi e posso falar que ajudamos muitas crianças. Alguns falam: a maioria das crianças está no caminho errado! Não está, não! A maioria está no caminho certo, mas o que ganha mais visibilidade é os que vão para o caminho ruim”, defende o homem, por excelência paternal.

João

Essa semana Álvaro deu início a uma campanha de arrecadação de brinquedos para a Associação Pedrinho. “Sem fazer alarde, já tenho 200. Pouco antes do dia 12 de outubro, vou mandar para os lugares. Quando levamos um brinquedo, uma caixa de bombons, um abraço, as crianças ficam enlouquecidas. O que essa molecada gosta de mim, gosto o dobro delas”, sorri. “Faço chegar onde realmente precisa. Conheço muitas instituições em Juiz de Fora e te falo que muitas deveriam estar fechadas, mas tem muito lugar sério, também. Tenho uma rede de amigos que ajuda muito. Não temos espaço físico, caixa, uma mega estrutura, mas temos vontade de mudar. E isso faz toda a diferença”, afirma ele, que está em negociação para a criação da sede da associação, sonho que espera realizar no próximo ano. O carro já tem, ganhado no último dezembro. “Não dirijo, mas o João dirige. Eu não queria ter essa despesa para a associação, mas ganhei, porque me indicaram. E recebemos com muito carinho”, conta, referindo-se ao filho mais velho, João Victor, de 22 anos. “Ele faz administração e hoje mora com a mãe. O João é um filho perfeito. No silêncio, a gente se comunica. Quando chegamos em casa depois do velório do Pedro, ele deitou ao meu lado e ficou comigo”, lembra, emocionado, o pai que no último dia 31 de julho viu o Clube Cascatinha inaugurar uma rampa de skate com o nome de Pedro, conhecido pelos amigos como Da Roça.

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Pedro

Esse dia dos pais será o 22º de Álvaro, torcedor do Fluminense, ao lado do corintiano João, o terceiro sem o cruzeirense Pedro e o primeiro na companhia do bebê Eduardo. Irá comemorar no clube, o mesmo onde costuma realizar aulões para arrecadar alimentos e materiais escolares para a associação doar. “Os moleques foram criados na AABB. Hoje faço um trabalho lá e sou vice-presidente de esportes de lá. É um lugar com o qual tenho uma dívida de gratidão. O último final de semana que vivi com o Pedro foi lá. Ele estava feliz, brincando. Em todos os cantos, vejo o menino”, pontua, dizendo conversar com o filho no cotidiano. Pedro nunca se fez ausência, diz, para logo contar do dia em que se viram pela última vez. “Se perguntar qual o motivo da morte dele, ninguém saberá responder. Ele foi para o hospital em Cabo Frio passando mal. Eu estava na casa da família da minha esposa, perto do Chuí. Peguei um ônibus para Porto Alegre e consegui um voo até o Rio de Janeiro. Cheguei 0h50 em Juiz de Fora. Quando deu 0h55, ele faleceu”, recorda, com a voz embargada e os olhos marejados. “Quando cheguei, ele já estava entubado, com a frequência cardíaca baixíssima. Desconfiaram de tudo, de leptospirose, cálculo renal, e mais um monte de coisas. Tudo deu negativo. Por muito tempo, fiquei encucado com isso, até entender que não preciso responder isso”, emociona-se. “Não era buscando o passado que eu resolveria meu futuro.”

Eduardo

Essas horas todas são de aprendizado para o pequeno Eduardo. “Ele sorri o dia inteiro. Ele dá gargalhadas. Não esperava que uma figurinha deste tamanho me desse tanta força”, comenta Álvaro, referindo-se ao filho bebê. Quando soube da gravidez da esposa Carina, com quem está junto desde 2012, Álvaro levou um susto. “Depois relaxei”, pontua ele, cujo pai tinha a mesma idade quando chegou. O nome surgiu naturalmente e, de alguma forma, homenageia outro pequeno Dudu, o cãozinho que permanece com sua cabeça deitada no colo de Álvaro ao longo de toda a entrevista. “Parceiro igual a esse aqui não tem igual. Tem que por jornal na casa inteira, porque ele faz xixi em tudo que é lugar. Ele só come se a Carina brincar com ele, ameaçando pegar a vasilha. Ela faz até macarrão para ele. E ele dorme com a gente na cama. Ele chegou um ano depois do Pedro”, conta Álvaro, acariciando o cachorro da raça poodle que este ano completa 19 anos, tempo superlativo para a vida canina e tempo curto em demasia para a vida humana.

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