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O corneteiro

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Robério era sócio do Januária F.C. há três décadas. Herdou o quinhão do pai. O registro amarelado está pendurado na parede descascada da sala, mesmo sob protestos da Dona Rosa, sua senhora. Mas o que ele gosta mesmo é de arquibancada. Todo domingo, segue seu ritual. Acorda. Come um pão com manteiga esquentado pela patroa naquelas chapas quadradinhas – ele adora as bordinhas torradas pelo gás butano. Dá um beijo na testa da patroa. Segue para o boteco do Zé Camilo.

Lá, sente-se em casa. Já pensou até em levar seu título de sócio para pendurar atrás do balcão. Zé Camilo acha graça, enquanto serve mais uma dose de cachaça. Branquinha. As horas vão passando e mais torcedores do Janu se sentam à mesa. Por lá ficam, até seguirem em romaria para o campo da Colina, o Colinão, onde o clube alvirrubro manda seus jogos. O ritual de sempre: Robério chega bêbado, com seu radinho de pilha, e se equilibra no alambrado atrás do banco de reservas.

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Antes plácido, ele se transforma a partir do apito inicial. Dispara os palavrões inimagináveis. É assim desde que o velho Janu perdeu o glamour e despencou para os mais baixos degraus das divisões de acesso. Xinga o juiz, os jogadores, o técnico. Mas seu alvo favorito é a diretoria. Ou a diretoria de M…, como costuma dizer.

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No último domingo, Robério saiu transtornado após o Janu amargar mais uma goleada: 4 a 0. Vomitava palavrões. Toinzinho da Borracharia, seu amigo, tentou acalmá-lo. “Semana que vem tem eleição no clube. Você é sócio. Pode votar.” O corneteiro desdenhou: “Que votar o quê? Meu negócio é reclamar”, disse, antes de seguir cambaleante: “Diretoria de M…! Diretoria de M…!”

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