Os horários das competições dos Jogos Olímpicos de Tóquio têm sido bastante ingratos para muitos. Eu me incluo entre estes, inclusive. Já não sou mais aquele jovem que trocou o fuso horário para acompanhar a todos – ou a quase todos – jogos da Copa do Mundo Japão/Coreia do Sul em 2002.
Para piorar, a pandemia ainda botou fim em minha já saudosa boemia. Ao menos, por ora. Confesso que eu tentei por vezes entrar madrugada adentro, mas no fim o sono leva sempre a medalha de ouro.
A única competição que conseguiu me levar até altas horas foi a disputa do street feminino no skate. Logo eu, que nunca havia acompanhado, de fato, uma competição da modalidade. Tive que aprender regras e algumas manobras entre a classificatória e a final. Lógico que, se nunca havia acompanhado nenhuma disputa, não conhecia também as competidoras. Assim, fui me afeiçoando a tudo em tempo real.
Primeiro vi que eram três as representantes brasileiras e que, sim, tínhamos chances de medalha. Ponto para o sk8. Depois, vi que, das três, tínhamos uma jovem atleta de 13 anos de idade. Pensei: “pô, bacana! A ‘mascotinha’ é a garantia de que teremos vida longa no esporte. Sensação que ficou mais real quando vi o VT mostrando a relação da jovem com a veterana da equipe.
Confesso que, nas primeiras apresentações, foi difícil entender as regras. Duas séries de livre exibição e cinco de manobras. Das sete notas, destacam-se as três piores. Ah, vá! Não é assim tão difícil. Esse entendimento, contudo, levou quase todo o tempo da primeira bateria.
Comecei a torcer, de verdade, quando Rayssa Leal, a jovem de 13 anos, e Letícia Buffoni, o exemplo da colega de equipe, entraram no circuito. Daí, a surpresa maior foi que a “mascotinha” tinha skate para manobrar de igual para igual. A fã desbancou o ídolo e garantiu vaga na final.
Faz pipoca que a coisa ficou séria! Com tal enredo, o sono foi embora e me vi atento na vigília pelas finais. Rayssa fez seu show à parte, ficou perto de levar o ouro, mas escreveu seu nome na história com a prata. A Fadinha elevou o nome do Brasil.
O mais bacana foi que, durante as finais, me vi interessado na história da veterana americana; na simpatia da competidora filipina; na rigidez da atleta chinesa; nas manobras da holandesa; no talento e juventude das japonesas; e na magia da fadinha brasileira. Não sei se ou quando vou parar para assistir a uma competição de skate, mas tamanha diversidade de histórias, me fez olhar para a coisa de um jeito bem mais respeitoso. Não somos a Pátria de Rodinhas, mas o skate é, sim, um Esporte com E maiúsculo por todos os sonhos que acalenta.