Era um ninho diferente aquele onde nasceram os três filhotes. Cada um de características e cores distintas. Um vermelho, outro preto, outro verde. Apesar de a variedade, a mãe parecia não se importar com a própria prole. Recusava-se a exercer seu papel de progenitora e suprir seus filhotes com os recursos necessários para que crescessem saudáveis e fossem capazes de levar o gene da família para além da fronteira natal.
A mãe era uma espécie de Narciso às avessas. O que era de seu sangue lhe parecia feio. Preferia abraçar o filho dos outros. Em especial, aqueles que cantavam puxando o “xis”. Em sua própria casa, era só críticas e desdenhava da incapacidade de seus descendentes em alçar voos mais altos. Vibrava com isso e se eximia de culpas com as escusas mais deslavadas.
A vida dos três era difícil. Abandonados, não recebiam os recursos necessários. Muito por conta de seus próprios esforços, travando duelos familiares por migalhas atiradas ao chão, mantinham-se como podiam. Vez por outra, conseguiram voar brevemente. Todavia, raramente, iam além dos morros que circundavam seu local de nascimento. Sempre sob olhares de desdém daquela que deveria lhes dar o sustento.
As dificuldades se mostraram intransponíveis para dois dos irmãos, que resignados voam cada vez menos. Sempre com galhardia. Um deles, porém, conseguiu superar as adversidades, ajudado em parte por outros seres que insistem em sobreviver naquele ninho e ecoam o seu canto distinto. O filho preto – e branco – tanto não mediu esforços que um dia, enfim, rompeu as barreiras daquele lar estranho. Voou alto, bonito e foi ser alguém na vida.
De tanta descrença, a mãe não viu seu filho ganhar os céus, mas foi capaz de perceber que a prole havia se tornado maior que ela.
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Essa é uma parábola ficcional. Entretanto, pode tornar-se em parte real amanhã, quando alguns juiz-foranos, por opção própria, perderão a chance de ver em campo o Tupi alçar o seu maior voo, chegar à Série B e levar o nome da cidade para os cantões mais distantes do país.