Sempre fui uma poeira cósmica que orbita no círculo gravitacional do esporte mais popular do planeta: o futebol. Desde a velha infância era assim. A bola, no pé ou embaixo do braço entre uma pelada de rua e outra, era o universo daquele garoto mirrado e sua camisa do Corinthians surrada. Diuturnamente, tudo era futebol. Assim, vivia envolto em “campeonatinhos”. Do racha de rua ao vídeo game, passando pelo futebol, tudo se resumia em torneios e tabelas organizadas em papel de pão.
Uma figura, de certa forma estranha, sempre se fazia presente nestas disputas de rua: o tal de W.O.. Sempre acontecia de um time não comparecer à quadrinha de cimento grosso para o campeonatinho entre os times da quinta série ou de um amigo mais pelego ter que deixar pela metade o torneio de futebol botão ou de vídeo game para atender os apelos de pais mais ansiosos ou superprotetores. Daí, para não melar a peleja, dá-lhe W.O e “siga la pelota”.
Esta semana, o bom e velho W.O. saiu das tabelas de papel de pão para ganhar as manchetes do noticiário esportivo tupiniquim. Isto porque, em decisão rara, na última terça, jogadores do Figueirense se recusaram a entrar em campo para enfrentar o Cuiabá pela Série B. Motivo: protesto pelo pagamento de salários atrasados.
Do ponto de vista esportivo e comercial, a decisão corajosa dos atletas não é bacana. Perde o campeonato, pois o resultado do jogo “não jogado” pode ter impactos no final do certame; perde o torcedor, impedido de acompanhar seus times do coração; perdem TVs e patrocinadores, que bancam o espetáculo. Por outro lado, é louvável o destemor destes jogadores ao defender única e exclusivamente aquilo que lhes pertence.
Sem entrar, de fato, no mérito de algumas propostas recentemente em discussão no país, em tempos de discussões tão importantes como mudanças previdenciárias e nas relações trabalhistas – e, de certa forma, de ode ao empreendedorismo – é importante que todos que vendem sua força de trabalho tenham consciência de seus reais direitos e unidade para defendê-los, Afinal, o combinado não deve ser caro.