Gabriel era apaixonado por futebol. Vidrado, à frente da televisão se transformava. Sorria e se enfurecia com a mesma intensidade. Mas, na maioria absoluta das vezes, considerava-se um injustiçado e seus urros eram mais de ódio do que de alegria.
A coisa só mudava um pouco quando o placar final era favorável ao time de Gabriel. Mesmo que a vitória viesse sofrida, com apenas um gol de vantagem e um maior volume de jogo do adversário, ou que o triunfo tivesse origem em um pênalti duvidoso, ele saía extasiado.
Mas, quando os sucessos escasseavam, os xingamentos se multiplicavam. Sempre contra o adversário. Sempre contra a arbitragem. A cada gol sofrido, uma desculpa. “Foi falta no meu zagueiro!” “Estava impedido!” “Não foi pênalti!”
A cada resultado ruim, Gabriel tinha a certeza de que o esporte é injusto e quase nunca vence o melhor. “O adversário é sempre beneficiado”, pensava o garoto de 9 anos, que ainda não sabia perder, toda vez que jogava futebol virtual em seu videogame de última geração.