O esporte sempre foi uma ferramenta de ensino para mim. Aprendi muito com o futebol. Aprendo ainda, na verdade. É parte de quem eu sou desde as peladas da infância e as cabeças dos dedões do pé estouradas no asfalto quente. Com a bola, compreendi a importância de saber perder e também de compartilhar. Percebi a relevância de um grupo unido em busca de um objetivo comum e do respeito ao adversário e às diferenças.
Como bom corintiano, aprendi a acreditar até o fim e a ter a consciência de que nada está perdido antes do apito final da arbitragem. Sei bem da importância de jogar junto até o último segundo. Como digo, com base na sabedoria popular, creio que tudo vai dar certo no final: se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.
Estamos vivendo uma das partidas mais difíceis das nossas vidas. Ao menos, como sociedade. A minha geração – já venci a barreira dos 40 anos – enfrentou, por exemplo, um processo de inflação galopante entre os anos 1980 e início dos anos 1990. Foi duro. Mas, até onde minha memória permite, éramos menos apegados a bens materiais. Bastava uma bola de futebol para garantir o entretenimento de um grupo de 20 crianças de idades variadas. Enfim, éramos livres, apesar de todos os muitos problemas de uma geração.
O inimigo agora é outro, parceiro. É meio que um desconhecido íntimo, uma vez que cenários pós-apocalípticos sempre nos foram corriqueiros nos cinemas e sessões da tarde da vida. Lembro-me de ter assistido ao filme Epidemia, com o Dustin Hoffman, em que a ficção se baseia na propagação de um novo vírus de alto contágio que desestabiliza os Estados Unidos. Lembro também de sair bem bolado do antigo Cine Veneza, vigiando o espirro alheio. Coisa de criança, sabe?
Pois é, a ficção agora é meio que real e o tal novo vírus está, de fato, nos rondando e acuando. Cada dia um pouco mais. Sem pânico, é hora de mostrarmos inteligência e não insistir na tecla da histeria. Como muita coisa na vida, neste momento estranho, eu recorro ao futebol. O placar pode estar dois a zero para o adversário, porém o jogo só termina ao apito final do árbitro.
Ainda estamos na primeira etapa. Há tempo, de sobra, para virar o marcador. Para isso, é preciso que saibamos jogar em grupo. Cada um guardando a sua posição, quieto, em sua própria casa. Se todos os jogadores cumprirem a estratégia – que é a única – à risca, em breve, estaremos todos abraçados, comemorando o gol da vitória.
Até lá, mantenham as mãos limpas e joguem pelos mais velhos.