O chute de Réver, aos “quaraquaquá” do segundo, quase garantiu uma melhor sorte ao Flamengo na Sul-Americana. Quis o destino que a bola se perdesse por sobre a meta do Independiente, momentos antes de os últimos grãos de areia escorrerem para o lado debaixo da ampulheta. Dentro de campo, o time caiu de pé. Mesmo mostrando velhas falhas de organização, a equipe se esforçou pela vitória que não veio. A maior derrota do futebol brasileiro, todavia, aconteceu fora das quatro linhas. São inadmissíveis as cenas protagonizadas por uma pequena parte de torcedores que praticaram inúmeros crimes diante das câmeras e da gente da TV que filmava tudo ali.
O que se viu no entorno do Maracanã é exatamente o “não futebol”. É barbárie. É selvageria. É o caos social. É a falência completa do Estado tanto em sua capacidade de educar e em sua obrigação de garantir a todos o direito constitucional de ir e vir. Muito se falou em uma punição ao Flamengo, algo que seria punir uma das vítimas e não os verdadeiros culpados. Punir o clube é imputar o preço do comportamento de boçais aos atletas e à imensa maioria da torcida rubro-negra, que nada fez além de apoiar.
A solução vai muito além da punição pela punição. É preciso cobrar do Poder Público investimentos em segurança. Existe tecnologia para identificar todos os envolvidos. Basta utilizá-las. Agora, também é necessário que a sociedade como um todo se dispa de suas espadas. Chega de ódio contra o que parece diferente. Só assim poderemos superar este momento em que não se respeita um estrangeiro; um torcedor adversário; um agente do Estado; um cidadão comum; ou aquele que se posiciona em um diferente espaço de discussão política.
Sem este respeito mútuo, corre-se o risco de seguirmos vivendo em modo looping nosso triste “Maracanazo” social.