A bola voltou a rolar meio torta para um Campeonato Brasileiro em que a única certeza é de um torneio alongado até 2021. Apesar de não ser difícil elencar favoritos, digo que o certame larga de forma desequilibrada por conta dos diferentes momentos de trabalho dos clubes em meio a uma pandemia que parece longe do final. Alguns times retomaram seus treinamentos ainda em maio, por exemplo. Outros apenas em julho. Se pensarmos que um desnível de preparação de uma semana costuma fazer diferenças significativas no início de cada temporada, os efeitos de semanas de diferença após uma parada de meses pode ter um estrago ainda maior. Só isso já torna o atual Brasileirão um torneio esquisito, para não dizer até injusto.
Curiosamente, dentro de campo, a diferença que chama a maior atenção do início do torneio até aqui acontece em um time que retomou suas atividades com mais brevidade, ainda em maio: o poderoso Flamengo. Na última quarta-feira, o campeão brasileiro e continental foi dominado com facilidade pelo Atlético Goianiense. No Brasileirão, o Rubro-Negro carioca ainda não foi sequer a sombra do time imbatível do segundo semestre de 2019. Foi, sim, do vinho importado para a água barrenta. Ao menos, nestes primeiros dois jogos, hiato muito pequeno para avaliações mais contundentes.
A debacle momentânea do antes imbatível Flamengo já faz com que alguns coloquem em xeque a capacidade do técnico Domènec Torrent, espanhol recentemente desembarcado no Rio de Janeiro. As críticas ainda – grifo no ainda – são precipitadas e regadas pelas lágrimas que ainda escorrem pela saída de Jorge Jesus. Mas o fato é que não dá para culpar apenas a uma pessoa tamanho contraste entre o futebol jogado pré-pandemia e a bola murcha do pós-Covid. Ninguém, nem por milagre, seria capaz de estragar um time como o do Flamengo.
Creio que seja um momento ruim e uma sequência atípica de dois jogos. Mesmo que Torrent não seja, de fato, o treinador que o clube espera, e que não seja honrado o suficiente para lavar os pés de Jorge Jesus, a equipe tende a se recuperar nas próximas rodadas visto toda qualidade do elenco. A menos que o problema seja outro, que vai muito além das quatro linhas e do banco de reservas. Historicamente, as grandes equipes do país sempre ruíram por egos inflados de elencos e diretorias.