Detesto generalizações e entendo que esforços para englobar situações e pessoas distintas sob um único rótulo são perigosos. Ainda assim, não receio em afirmar que as torcidas organizadas flertam recorrentemente com a idiotia. Não é só no Brasil. Não é só no futebol. Esta semana a irracionalidade de uniformizados chamou atenção no handebol português. Seguidores do Porto utilizaram a tragédia ocorrida com a Chapecoense para provocar a torcida do Benfica. “Quem me dera que o avião da Chapecoense fosse do Benfica”, bradaram, a plenos pulmões, em um tom de ironia lamentável.
Isto mesmo: “organizados” valeram-se da tragédia que vitimou 71 pessoas para destilar seu ódio contra um adversário, que, longe de ser inimigo, nada mais é que seu espelho. Não dá para usar outro adjetivo que seja mais brando que idiotia para tratar o caso. Ontem, um dia após o absurdo, os portistas tentaram colocar panos quentes. Disseram-se solidários à tragédia que vitimou a delegação da equipe brasileira e afirmaram que a música entoada na quarta-feira “não é mais do que uma sátira sem quaisquer consequências reais”.
Por hábito, tento perdoar equívocos alheios. Não serei diferente com a torcida do Porto. Contudo, apesar das escusas, aconselho aos portugueses que revejam seus conceitos. Desejar a morte de alguém é exercício de ódio e de intolerância. Não é preciso ser gênio para vislumbrar que a soma destes dois sentimentos tem consequências reais como a violência. Voltando ao exemplo brasileiro, não são raros os casos em que tal combinação resulta em fatalidades. Quem me dera a parte mais raivosa dos uniformizados fosse capaz de entender que torcer por um time de futebol não é um ato de cólera, mas de fraternidade.