Gustavo e Leonardo eram conhecidos de infância. Cresceram juntos em uma rua que separava um condomínio de luxo de um morro apinhado de puxadinhos sem reboco. Estudaram na mesma escola pública. Em casa, tiveram uma educação muito parecida. Torciam para o mesmo time. Naquele ano, viajaram juntos para uma cidade do interior, daquelas tantas que tem o melhor Carnaval do país. Viajaram em turma, apesar de não serem propriamente amigos. Tinham suas diferenças. Muitas.
No Carnaval, não ficaram juntos além da primeira cerveja. Enquanto Gustavo mirava uma moreninha de olhos castanhos. Leonardo, incontrolável puxava o cabelo de qualquer “rabo de saia” – como dizia – que lhe cruzasse o caminho. O primeiro conseguiu dar boas risadas com os amigos. Alimentou o flerte até a madrugada da segunda-feira, quando ganhou, enfim, o primeiro beijo. Na outra ponta da festa, o segundo já havia perdido a conta de quantas bocas beijara e em quantas brigas se metera. Gostava do estilo “mata-leão”, nas duas “modalidades”.
Na Quarta-feira de Cinzas, o ônibus de volta saiu tão logo as batucadas do último bloco foram silenciadas. Gustavo deixou a nova namorada ir na janela. Ofereceu o ombro para a morena dormir o sono dos justos que precede a festa de Momo. O sossego, contudo, era entrecortado pela fala alta de Leonardo, que se gabava de feitos pouco factíveis e do olho roxo que exibia como troféu. “Você tinha que ver como ficou a cara do outro”, ria, ensandecido. Sobre as meninas, foram várias. “Para mim, não existe não!”, gabava-se.
Tão logo a turma chegou em casa, a próxima farra já foi definida. Como todos torciam para a mesma equipe, acompanhariam juntos o clássico do fim de semana. No domingo, Gustavo chegou cedo para poder tomar uma cervejinha antes de entrar no estádio. Estava feliz por juntar em um mesmo programa o amor de Carnaval e sua paixão pelo futebol. Para ele, aquilo era o melhora da vida. Leonardo não apareceu. Punido por comportamento agressivo, tinha que se apresentar na delegacia em dias de jogos de seu time.