O futebol para mim sempre foi algo mágico. Desde que me lembro por gente, ele esteve ali, ao meu lado. Seja pelo ouvido colado no radinho de pilha; pelos olhos vidrados na telinha da TV; pelo choro infantil nas copas de 1986 e 1990; pela cabeça do dedão arrebentada no asfalto quente da esquina; pelas amizades construídas nas peladas de rua; ou pela loucura pelo meu Timão. Tudo sempre foi futebol. E ainda é. Basta ver as unhas roídas ou o bordão “Aqui é Corinthians”, que uso invariavelmente para definir infinitas situações em meu cotidiano. Todavia, por vezes, sinto vergonha de ter tanto apego por um esporte que tem lados tão podres, capaz de mover paixão genuína e ódio vil.
Avesso a qualquer tipo de violência, nunca entendi o que leva alguém a agredir um simpatizante de um time adversário – um torcedor, assim como ele – como um Narciso às avessas e ignorante que acha feio o que é espelho. Mais incompreensível ainda é quando uma torcida agride seu próprio time, como ocorreu na noite da última terça-feira, em que o ônibus do Palmeiras foi apedrejado por ditos palmeirenses antes do duelo com o contra o Junior Barranquilla pela Libertadores. Agressão tão violenta quanto imbecil.
Nada justifica atos de violência, mas, a de meia dúzia de palmeirenses – não confundir com a torcida alviverde como um todo, por favor – foi ainda mais inconcebível. Inexplicável pelo simples fato de sua razão – ou falta dela – não compreender um entendimento esportivo consolidado no início do século passado na retórica de Barão de Coubertin, que rege que o importante não é vencer, mas competir.
Para os agressores de terça – e tantos outros trogloditas que usam o futebol como escusa para externar suas inseguranças -, não bastam o título brasileiro conquistado pelo clube há pouco mais de cinco meses; a classificação quase garantida na Libertadores; ou uma campanha de 11 vitórias e apenas duas derrotas em 20 jogos na temporada. Nada basta, pois estes parecem só vencer pela barbárie, o que nos impõe, a todos, seguidas derrotas diante da incapacidade de nossas autoridades em conter tamanha idiotia; e da recorrente constatação de que não há qualquer magia no esporte que tanto amamos.