Tenho o esporte como válvula de escape para as angústias que me consomem. Quando o jogo começa, deixo os problemas de lado. Xingo. Sofro. Choro. Sorrio. Com ferocidade e velocidade definitiva, sempre renasço de alguma maneira após ser arrasado por um revés ou ter a alma lavada por uma vitória.
Mas há coisas na vida que são muito mais relevantes que um gol nos minutos finais. Talvez por isso, aos olhos de um amigo que era um irmão, o esporte sempre foi relegado a segundo plano, diante da gana de aprender e debater os problemas de nossa sociedade. Sem escapismos, do alto de sua lucidez, ele sempre disse: “sobre futebol, o Renato responde por mim!”.
Nunca deixei uma discussão sem resposta. Sentia-me mais inteligente por, ao menos no esporte, ser o porta-voz de um cara que nunca quis entender as regras do futebol porque se dedicava à vida com sede de sabedoria, dominava quase tudo que falava e falava de quase tudo com um conhecimento ímpar.
Não há válvula de escape que me faça esquecer tamanha amizade. Sua passagem pelas nossas vidas foi muito mais feroz, veloz e definitiva do que qualquer campeonato. Juntos, xingamos, sofremos, choramos e, principalmente, sorrimos. Por isso, Fernando, como você disse no discurso de formatura, “nunca nos esqueceremos”. Fique tranquilo, amigo, continuarei falando por ti no futebol, sem deixar que o esporte me faça esquecer das coisas que, de fato, são mais importantes nessa vida.