Os bons desempenhos do Flamengo dentro e fora das quatro linhas nos últimos anos são incontestáveis. Além da gigante torcida, hoje o clube carioca ostenta, tranquilamente, a condição de principal força do futebol brasileiro. Quiçá, das Américas.
Essa é uma tese de fácil comprovação. Basta olhar os títulos em série conquistados pelo Rubro-negro de 2019 para cá. Campeão de quase tudo, basicamente, só não levantou o título Mundial, título o qual os clubes não europeus vivem um jejum desde a conquista do Corinthians em 2012.
O sucesso nas finanças também é flagrantemente evidente. Haja vista o potencial mostrado na aquisição de atletas. Mais ainda, o clube negocia bem, como podemos ver na recente negociação do meia Gérson, que, dizem, é mais uma que deve romper tranquilamente a barreira dos R$ 100 milhões.
O sucesso é evidente e inegável. Por vezes, ele inebria. Entontece. Deixa a gente meio bobo, sabe? Mas, nada, absolutamente nada, justifica alguns posicionamentos de parte do comando do clube carioca. Bons no campo e nas finanças, muitas vezes representantes do clube mostram-se um equívoco retumbante em alguns aspectos, digamos, humanitários e sociais.
Não! Eu não estou falando da tragédia do Ninho do Urubu que, em 2019, mesmo ano em que o clube começou a empilhar títulos mais relevantes, vitimou fatalmente dez garotos em um incêndio, o que culminou em oito denunciados que respondem como réus por um possível incêndio culposo qualificado pelos resultados de morte e lesão grave.
Estou falando de algo mais recente: a manifestação do vice-presidente de Relações Externas do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o tal do BAP. Nesta quinta-feira (10), defendeu o retorno do público aos estádios de futebol, no mesmo dia em que o país registrou mais 2,3 mil mortes em decorrência da Covid-19, rompendo a marca de 482 mil óbitos desde o início da pandemia.
Mais do que isso, apequenou uma das maiores agremiações do país, ao dizer que Flamengo é a favor da volta do público aos estádios. O escárnio é defendido com argumentos genéricos. “Covid é um processo natural”, diz o cartola, como em um convite para a grande festa da contaminação, sugerida por negacionistas “encanetados”. “Covid não se pega somente em estádio de futebol”, afirma, repetindo chavões politizados.
Sem apresentar balizas científicas e de olho na bilheteria, BAP arbitra o percentual de 30% como seguro para o retorno do público aos estádios em um momento que se teme uma terceira onda. Ao que parece, pouco importa o percentual real que aponta que o Rio tem uma ocupação de UTIs acima de 90% há mais de três meses, com, certamente, muitos flamenguistas jogando, de fato, o jogo da vida.