Outro dia estava conversando com uma amiga, momentos antes do jogo do time dela, sobre a tensão que envolve grandes jogos – em especial os de mata-mata. Como um recurso natural e corriqueiro, ela clamou taxativa: “vê se não torce contra!” Tão naturalmente quanto à reprimenda, veio um sorriso lúdico em meu rosto. “Claro que não”, respondi, de forma verdadeira.
Daí me veio um incômodo “insight”: por que diabos, no futebol, gastamos tanta energia torcendo contra o time alheio? Por qual razão sádica nos regozijamos tanto com a tristeza futebolística de amigos, parentes e desconhecidos íntimos nos bares da vida? Por que motivo alguns se mostram, até mesmo, mais satisfeitos com os reveses do adversário – ou rival, chamem como quiser – do que com a vitória do seu próprio time do coração?
Foram questionamentos retóricos, quase divagações. Eu sabia que não seria capaz de responder algo tão complexo, tão pertencente a cada um e tão enraizado na cultura esportiva brasileira. Nem deve existir uma razão específica para tal fenômeno, mas, confesso que muito me incomoda quando vejo uma arquibancada vibrando mais em escárnio ao adversário do que em apoio à própria equipe.
Sou fanático por futebol. Desde criança. Vivia com o dedão do pé esfolado repetidamente pelas peladas disputadas no asfalto. Ora, morro abaixo. Ora, morro acima. Sabia de cor e embaralhado as escalações do meu time jogo a jogo. Na verdade, sei até hoje. Já morri – e ainda morro – muitas vezes por uma derrota. Já cheguei ao nirvana por uma vitória, um título, ou mesmo por um gol sofrido. No entanto, acho, de fato, que nunca torci contra A ou B. Isto nunca fez o menor sentido para mim.
Até entendo os adeptos da zoeira, que roem as unhas, com nervos à flor da pele, na torcida pela derrota rival. Ou tento entender, é bem verdade. Apesar de blasé, divirto-me com os memes debochados a cada tropeço deste ou daquele outro time. Mas, reitero: no futebol ou na vida, torcer contra não me apetece. Assim, bom jogo para todos no fim de semana. Fico por aqui, torcendo pelo meu e gritando “Vai, Corinthians”!