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Atenção: o consumo de livros pode ser nocivo à ordem e ao progresso

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Por que será que existe essa perseguição contra livros? Alguém aí sabe me dizer?
Por que será que o ministro Paulo Guedes propõe taxar os livros em 12%, alguém me diz, por favor?
Livros, esses objetos tão inofensivos, são alvo de uma proposta de reforma tributária cruel. Afinal, não é exatamente o caso de livros serem vendidos aos montes todos os dias, como se fossem pão francês. O que acontece é que o livro, no Brasil, já é um produto que não se movimenta indiscriminadamente em todas as classes da população como um pacote de açúcar, por exemplo. Aliás, o que tem feito o governo para melhorar a saúde do corpo e dos dentes da população brasileira? Vai uma reforma tributária no açúcar aí, gente? Seria uma ótima ideia a de aumentar consideravelmente o imposto sobre doces, chocolates, açúcar, não seria? Seria uma boa medida para o bem-estar da população, fazendo com que o açúcar encarecido, passasse a custar mais forçando um consumo mais consciente.
Ou que tal aumentar os impostos do pessoal que ganha bastante dinheiro? Já pagam impostos, a gente sabe, mas que tal pagar mais um pouquinho? Ou será que são os donos de livrarias, os editores, os escritores, os ilustradores que devem sofrer com a consequência de uma taxa que era isenta até agora?
Já que estamos aqui refletindo e pensando sobre alternativas para que o governo arrecade mais, que tal a legalização das drogas chamadas ilícitas? Imaginem todo o império do tráfico tendo que, até que enfim, pagar todo o imposto que qualquer outro negócio paga? Ou será que deixando de legalizar as drogas, uma hora a guerra contra o uso da maconha, cocaína, heroína vai ser vencida? Ou será que as pessoas usam menos tais substâncias porque são proibidas? Quem será que acha isso? Agora, imaginem se, ao invés de tapar o solão do mundo do tráfico com uma peneirinha furada, o governo passasse a admitir que drogas existem e as pessoas usam. Umas por prazer, outras por vício. Daí, o governo passaria a mostrar para os seus cidadãos que não está combatendo um dragão, um unicórnio, o Papai Noel. Seria um combate a um inimigo que é possível enxergar, mas é preciso admitir a sua existência primeiro. Legalizando as drogas, cobrando impostos altos de seus fornecedores e distribuidores, o governo arrecadaria uma fortuna e sobraria recursos para contratar profissionais que trabalhariam para informar a população dos enormes riscos e perigos das drogas. Daria dinheiro suficiente para construir centros de combate ao vício, de fato, um problema grave, sério mesmo. Ou, se a questão for polêmica demais, que tal diminuir o salário dos políticos, esses servidores públicos que tantas vezes se comportam como reis? “Oras bolas”, já disse uma vez o senhor Bolsonaro, expondo seu frágil domínio gramatical desta última e caprichosa flor do Lácio. Faz sentido a taxação do livro. Afinal, está provado e comprovado que para ser um político no mais alto posto não é preciso ler, não é preciso ter bagagem cultural, tampouco entender que tudo existe através da escrita. Das séries ruins aos filmes de arte. De Machado de Assis à Constituição. As palavras são mesmo perigosas. Às vezes, elas carregam sarcasmo, metáforas, símiles, onomatopeias, pleonasmos, zeugmas, pensamentos críticos, ironia. São dissimuladas as palavras que vêm nesses livros que o Guedes propõe encarecer. Essas armas de extrema periculosidade disfarçadas de capa dura, títulos sugestivos e ilustrações podem educar um povo, familiarizando cada cidadão com a ideia do poder de debate, argumento e discussão. Imaginem o caos se todos puderem criticar com bons fundamentos? Melhor mesmo taxar esses livros e deixar tudo quieto, como sempre esteve. Já pensaram se caíssem em desuso duas das mais brasileiras das expressões: “você sabe com quem está falando?” e “coloque-se no seu lugar”. Com os livros passando livremente de olho em olho, virariam obsoletas, coitadas. Vamos manter a ordem nacional: enriquecer o traficante isento de qualquer imposto, deixar intactos os salários dos políticos e a fortuna dos ricos e taxar o livro, deixando cada vez mais pobres os escritores, os editores, as livrarias. Tudo na mais perfeita ordem. Tudo no mais perfeito progresso.

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