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La Mano de Dios

maradona
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Futebol. Quando começa a passar, desligo. Mas nem sempre foi assim. Para dizer a verdade, em época de Copa do Mundo ainda sigo grudada na TV assistindo a quase todos os jogos. Hoje em dia, torço para o Brasil e para a Inglaterra, afinal de contas, já tenho quase metade da vida até aqui em solo inglês. Mas confesso que quando o Brasil joga, o coração se aperta, explode, fica meio capenga. Minha torcida para a Inglaterra condiz com a conhecida polidez britânica: é tranquila, contida, sem gritos ou rompantes.

Então cabe dizer que o que eu curto mesmo é torcer para o Brasil porque é muito mais emocionante. A gente que é brasileiro sabe que o sentimento na frente da TV ou num estádio é como se nos ligassem na tomada e ficássemos lá eletrizados por todos aqueles minutos que são muito chatos quando não é o país da gente jogando. (Opinião minha, claro.) A sorte é que, aqui em casa, o pessoal não é lá tão ligado em futebol. Há quem goste bastante, mas está longe de ser, por exemplo, a paixão que tem meu pai pelas quatro linhas. Foi meu pai quem nos ensinou sobre futebol. Gostasse ou não, quisesse assistir ou não, lá estava a casa toda encarando uma partida do Flamengo, do Cruzeiro ou do Brasil. Esses foram os times que aprendemos a dizer os nomes, a dizer que por eles torcíamos. Coitada da minha mãe, sozinha, torcendo para o Fluminense. E por que ali no meio do nada em Minas a gente torcia para o Flamengo e a mãe para o Fluminense? Me diziam que era uma questão de proximidade geográfica.

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Tivemos um período de acirrada rivalidade local. Tibério x Guarany. Aprendemos a torcer pelo Guarany, com faixas e bandeiras, porque a família estava completamente envolvida naquilo. Mas Copa do Mundo era uma loucura. Na Copa do México a gente decorou a rua toda, a cidade inteira, o país completamente tomado pelo verde amarelo que ainda não tinha sido usado por gente cheia de ódio como agora.

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Me lembro de ir com amigos assistir à partida Brasil x Itália, pênalti, 1994, vai que é tua, Taffarel! Baresi bate pra fora. Pagliuca defende o gol do Márcio Santos. Albertini marca. Romário vai lá e, diz o comentarista que, com categoria, empata o jogo. Evani faz outro gol para a Itália. A essa altura, estávamos todos de pé apertando as mãos uns dos outros. Branco marca e empata. Está 2 x 2. Taffarel segura a bola chutada por Massari. É muito grito na sala da casa do amigo. Dunga precisa marcar esse gol. É o capitão. Marca. O coração já está na boca. Aí vem o belo Baggio e o belo Baggio bate pra fora. Somos, de um segundo pro outro, tetracampeões. Foi mesmo especial.

Daí, passavam anos sem que eu me interessasse. Até que um dia eu me casei aqui na Inglaterra. Minha mãe e meu pai vieram testemunhar o enlace. Aliança no dedo, papel assinado, almoço, festinha, noite de núpcias. No dia seguinte o casal precisava sair cedo do hotel e voltar para casa onde meu pai, especialmente, nos esperava com enorme ansiedade. Em vez de lua de mel, fomos todos para o estádio do Arsenal assistir à partida Brasil x Argentina. Tenho fotos da minha mãe e do meu pai, mão em punho, vibrando pelos gols brasileiros e vestidos de verde amarelo. Acredito que tenha sido um dos melhores passeios já feitos pelo meu pai.

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A gente que é brasileiro, basta ver as nossas cores em campo para o coração pulsar apaixonado. Confesso que hoje em dia sinto um relativo desprezo pela quantidade indecente de dinheiro que levam jogadores. É um salário desigual demais em qualquer país do mundo. E, cá pra nós, depois daquele 7×1, a gente virou outro tipo de torcedor, não é?

Ainda assim, brotaram da nossa América do Sul os maiores, os melhores. Entre eles, Dieguito que se foi esta semana. Figura única, carregava polêmicas por onde andava, mas era inteiro. Era um gênio pecador e sujo como os deuses terrenos. Aqui na Inglaterra ele é lembrado por outros motivos. Ao contar da morte de Diego Maradona ao meu marido, ele, ainda humilhado pela derrota de 1986, Argentina 2 x 1 Inglaterra, comenta em voz baixa e respeitosa: que ele esteja, agora sim, na mão de Deus.

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