É no campinho de terra que o bicho pega. Descalço, de chinelo, com o tênis furado, ou com a chuteira de couro da hora, nada disso faz diferença, ali é que o talento se sobressai. De camisa rasgada ou aquela surrada de tanto varal, até mesmo a oficial do Messi, com toda a tecnologia de ponta, tem vez. Mas a dica é jogar sem. Sem camisa, sem distinção, sem preconceitos, sem rótulos. No campinho, na verdade, o que vale é o gol.
No campinho você aprende que aquele sonho da noite mal dormida – de tanta ansiedade na espera do futebol do dia seguinte – que os buracos e pedras são fáceis de serem vencidos com um torpedo na gaveta que vira realidade. É lá que você pode comemorar o gol como o Cristiano Ronaldo ou como você mesmo inventou, gritando o nome do seu ídolo, dando o seu soco no ar. No final, todo mundo se abraça, do amigo sem camisa ao que tem a do Messi… afinal, foi gol do nosso time.
Toda essa coletividade, igualdade, oportunidade de mostrar o seu talento, de conhecer realidades diferentes, de perceber a essência de cada ser humano independente da carga material que ele carrega é possível lá no campinho. Lá, talvez protegido pelos deuses do futebol, ainda não apareceu nenhum maluco propondo que se cobre para jogar nossa bola. Nosso campinho é público, nele tem espaço pra todos, até o dia que um trator chamado progresso chegar.