Lá pelos anos 80, quando não tinha TV a cabo com jogos a granel e o meu Google eram as resenhas esportivas do rádio e as histórias que meu pai me contava, ouvia muito falar de um meio-campo que fez sucesso no Botafogo carioca. Além das façanhas dentro das quatro linhas, a prosa sempre tendia para as atitudes do meia fora delas.
Hoje, já com a ajuda do Google, é fácil perceber a grandeza que o Afonso Celso teve para o futebol na época. Revelado pelo XV de Jaú, Afonsinho, como era chamado, antes do Dr. Sócrates já tinha o estilo hippie barba-cabelo grande, cursava medicina ao mesmo tempo em que era um profissional, politizado, participava de movimento estudantil e tinha lá suas posições firmes. Foi o primeiro jogador a conseguir o passe livre no Brasil após ser encostado alguns meses no Botafogo por não aceitar fazer a barba e cortar o cabelo. Era considerado “subversivo”, talvez por não aceitar fazer parte do que achava errado.
O envolvimento com as causas políticas era de um tamanho que o jogador – que além do Glorioso, teve passagens pelo Olaria, Vasco, Santos, Flamengo, América Mineiro, até encerrar a carreira no Fluminense – cogitou se juntar à luta armada. Afonsinho era monitorado pelo regime militar e, nem por, isso deixava de gritar pela sua classe e de jogar o seu futebol. Foi tese de mestrado e tema de documentário, virou psiquiatra, trabalhou no Instituto Pinel e substitui Sócrates, como colunista, na revista Carta Capital. Um personagem e tanto do mundo do futebol.
Hoje, no tempo em que todo mundo se acha no direito de dar a sua opinião, principalmente nas redes sociais, o futebol sente falta de personagens como Afonsinho dentro das quatro linhas. Vá lá que muita gente acha que o jogador tem que se preocupar em jogar bola, mas fazem falta personalidades como Afonsinho, opinando sobre o Brasil longe dela. Vida longa para o Afonso Celso, que ano que vem completará 70 anos.