Em algum momento das quatro longas horas de cabelo, maquiagem, depilação, figurino e inúmeros detalhes de caracterização, Júnior Aguiar vai encontrando seu alter ego no espelho, até que só ela permaneça, pleníssima, rainha: a atual Miss Brasil Gay, Sheila Veríssimo. “É a parte do processo que mais gosto, a maquiagem. Coloco Mariah Carey, que amo, para ouvir e vou me inspirando, curtindo meu momento, construindo a personagem, me encontrando com a Sheila”, diz a miss, em saltos altíssimos, um elegante vestido preto, a faixa do título e a luxuosa coroa por cima dos alinhadíssimos fios louros. A vitória veio em sua terceira participação na disputa, em 2013, quando representou o Espírito Santo.
Em entrevista à Tribuna, Sheila falou, com os pés (digo, saltos) no chão e muita simpatia, sobre a importância e a representatividade do posto que deixará neste sábado. “Não é apenas o título de transformista mais bonito do Brasil. É sobre honrar uma longa história de representatividade e resistência. Fundar o Miss Gay em plena ditadura, como o Chiquinho (Mota) fez foi um ato de coragem. O retorno do concurso é importante até para legitimar meu título, mas representa muito, muito mais do que isso, porque a ideologia por trás da disputa é muito maior do que quem carrega a faixa” argumenta Sheila, sem qualquer sinal do clichê de discurso insosso de misses.
Para Sheila, a volta do Miss Gay em plena ascensão de figuras e produtos midiáticos do universo LGBTTI, como a drag queen brasileira Pabllo Vittar e o reality que virou hit mundial, Ru Paul’s Drag Race, é extremamente representativa. “O concurso foi pioneiro, é é importante que a geração que curte Pabllo Vittar e RuPaul conheça um evento que abriu portas, no inconsciente coletivo, para que estes produtos e estes artistas conquistassem o mercado nacional.”
Depois de rodar o mundo de faixa e coroa, Sheila as entregará para uma nova miss no palco na noite deste sábado, em uma despedida de seu reinado em grandiosíssimo estilo, um vestido com cerca de um milhão (isso mesmo!) de cristais (tá, meu bem?!), assinado pela estilista travesti badaladíssima Michelly Xis, que já vestiu celebs como Xuxa, Ivete, Susana Vieira, Cláudia Raia, Preta Gil e muitas outras no carnaval. “Não sei se ela exagerou nos cristais, mas precisarei de uma equipe para vesti-lo (risos). Mas adoro este processo, é como brincar de boneca por meio desta arte performática. Será uma noite de princesa. Já tenho algumas favoritas ao título deste ano, mas prefiro não fazer apostas, porque o concurso se decide na adrenalina da noite”, opina ela.
Nova casa e atrações surpresa
O Miss Gay retorna no ano em que completaria 40 anos da sua fundação em 1977, e nesta edição traz o tema “Masculino e Feminino, a arte do transformismo”. Na noite de sábado, a disputa será realizada em um novo espaço, o Terrazzo, deixando sua casa tradicional, o Sport Club, que está interditado, e o Cine-Theatro Central, onde a última edição foi realizada.
Durante o evento, todas as 27 candidatas, representantes dos estados brasileiros e do Distrito Federal, desfilarão em traje de banho e gala, disputando a coroa de Miss Brasil Gay. Os desfiles serão entremeados por performances de drag queens e artistas proeminentes na cena LGBTTI nacional, cujos nomes foram mantidos em mistério. A vencedora é eleita por um júri de 23 integrantes com artistas de visibilidade nacional, personalidades de expressão em Juiz de Fora e empresários dos setores de moda, beleza e estética.
Um dos integrantes é o estilista Dudu Bertholini, um dos nomes mais autênticos e descolados da moda brasileira contemporânea. Os apresentadores Érica Salazar (segunda mulher a apresentar o evento) e Ikaro Kadoshi (uma das drags brasileiras mais influentes, que também assume a direção artística do evento) também prometem surpresas para o público. Os ingressos podem ser adquiridos no site do Miss Brasil Gay.
Para atender à demanda do evento, a Settra disponibilizou veículos extras durante horários próximos à entrada e à saída do evento, nas linhas que cobrem o trajeto até o Terrazzo. Saindo do centro haverá os seguintes ônibus: 508 – Deusdedit Salgado (18h10 e 19h40); 518 – Salvaterra (18h56, 20h18 e 23h); 519 – Torreões (19h e 20h30); 523- Monte Verde (18h, 20h e 21h30); 529 Torreões/ Monte Verde (23h30); 543 – Santa Córdula (18h10) e 536 – Mirante BR-040 (19h51 e 22h02). Saindo do Terrazzo, no fim da festa, haverá o 518 – Salvaterra (5h10); 519 – Torreões (5h20) e 523 – Monte Verde (6h).
Festa na rua
O sábado no Calçadão é historicamente um dos momentos mais esperados da Rainbow Fest, e a programação deste ano não deixa a desejar para que a tradição se perpetuar. A festa começa cedo, às 10h, com DJs fazendo o som e, a ao meio-dia, haverá a clássica execução do Hino Nacional,interpretado pelo cantor lírico Thales Tácito. A programação segue com show da drag queen Nayla Brizard, seguida pela performance da trans fitness Paloma Salume. Um dos pontos altos promete ser a eleição da Top Drag do Calçadão, prevista para as 13h45. Logo após, performam o grupo Barbies e Sill, com números de dança. O encerramento do festejo no Calçadão está planejado para as 15h, quando começa o agito na Praça Antônio Carlos, também com DJs. Por lá, a partir das 19h30, haverá apresentação de diversas performers: Nayla Brizard, Joanne Portilla, Duda Flux, Wandera Jones, Sill e Grupo Barbies.
Também na Praça Antônio Carlos, no domingo, às 10h, tem “Cãominhada” e feira de adoção de animais. Os DJs começam às 15h. Às 18h30, tem Tuka’s Band e, às 20h, Fábio Vargas e Banda. Ainda domingo, a partir de meio-dia, a nova dona da coroa comemora seu título e faz sua primeira aparição em evento da Feijoada da Miss, no Premier Parc Hotel, com o samba de Sandra Portela a partir do meio-dia.