A influência da gastronomia asiática no meio ocidental tem sido cada vez mais significativa ao longo das últimas décadas, em grande parte devido à ênfase e ao reconhecimento do sabor do umami e da inclusão de pratos, técnicas e ingredientes asiáticos. O umami, considerado o quinto sabor básico, além de doce, salgado, azedo e amargo, é um elemento característico e essencial na culinária asiática, e desempenha um papel crucial na conquista do paladar dos ocidentais. Um dos principais impulsionadores dessa influência é o renomado chef americano de ascendência coreana, David Chang. Reconhecido por sua abordagem inovadora e autêntica, Chang é um defensor do umami e tem desempenhado um papel fundamental na popularização da gastronomia asiática no Ocidente. Fundador do famoso restaurante Momofuku, ele introduziu pratos asiáticos contemporâneos, ricos em umami, na cena gastronômica ocidental. Sua criatividade e combinação de técnicas culinárias ocidentais e asiáticas resultaram em pratos icônicos, como os saborosos baos e o reconhecido ramen.
Traduzindo umami significa delicioso, e está presente em diversos ingredientes asiáticos, como molho de soja, miso, algas marinhas, cogumelos e peixes. Esses ingredientes ricos em umami são amplamente utilizados na culinária asiática para aprimorar e realçar os sabores dos pratos. A combinação cuidadosa desses ingredientes com outras especiarias e técnicas culinárias resulta em refeições equilibradas e profundas em sabor. A conscientização crescente sobre o umami e seu papel na gastronomia oriental levou à sua adoção em pratos ocidentais e à criação de uma fusão culinária interessante. A combinação de ingredientes e técnicas culinárias ocidentais e asiáticas resultou em pratos inovadores e saborosos, que conquistaram o paladar dos ocidentais e tornaram-se parte integrante da cena gastronômica.
Junto com a tendência da cozinha asiática no ocidente, vieram os erros de tradução em nomes de pratos que podem ter um impacto negativo no uso e compreensão da culinária asiática. A tradução inadequada pode levar a equívocos e distorções, afetando tanto a experiência do consumidor quanto a autenticidade dos pratos. Um exemplo comum de erro de tradução é a simplificação excessiva ou generalização dos nomes clássicos e originais. Muitas vezes, nomes complexos e ricos em significado são reduzidos a termos genéricos ou estereotipados, que podem não refletir corretamente a essência do prato. Isso pode levar à perda de parte da cultura e história que estão intrinsecamente ligadas à culinária asiática. Além disso, a tradução inadequada também pode resultar em mal-entendidos sobre os ingredientes e técnicas utilizados na preparação. Nomes de ingredientes podem ser traduzidos de forma incorreta, levando à confusão ou à substituição equivocada de ingredientes-chave. Isso pode comprometer o sabor e a autenticidade do prato, além de distorcer a experiência culinária.
Esses erros de tradução podem levar ao chamado “efeito de comida étnica falsa” ou “exotificação”, em que a culinária asiática é reduzida a estereótipos simplistas e adaptada para atender a percepções ocidentais, muitas vezes com alterações na autenticidade e sabor original criando uma versão diluída, distorcida e falsa, que não representa verdadeiramente a diversidade e a complexidade dos pratos originais. Um exemplo dessa situação que percebi recentemente foi com um Yakitori. Yakitori é um prato japonês popular que consiste em espetinhos de frango grelhados. O termo “yakitori” pode ser traduzido para o português como “espetinhos de frango grelhados” ou “espetinhos de frango na brasa”. É importante destacar que, tradicionalmente, o yakitori é feito exclusivamente com frango. O termo “tori” significa frango e “yaki” significa “feito diretamente no fogo”, enfatizando a técnica de grelhar utilizada na preparação desse prato.
A razão pela qual as diversas partes do frango são utilizadas no yakitori tem raízes históricas e culturais. Durante o período Edo (1603 – 1868) no Japão, houve uma proibição de consumo de carne vermelha devido a questões religiosas e sociais. A religião dominante no Japão na época era o xintoísmo, que enfatizava a pureza e a purificação. O consumo de carne vermelha era considerado impuro de acordo com as crenças xintoístas, pois estava associado ao derramamento de sangue e à morte de animais. Além disso, o governo também tinha motivações sociais para restringir o consumo de carne vermelha. A população do Japão estava crescendo rapidamente e havia preocupações sobre a disponibilidade de alimentos e o equilíbrio entre a oferta e a demanda. Restringir o consumo de carne vermelha era uma forma de controlar a disponibilidade e direcionar o consumo para alternativas mais viáveis, como peixe, frutos do mar, frango e vegetais.
Essa restrição de consumo teve um impacto significativo na dieta japonesa da época. O peixe tornou-se uma fonte importante de proteína e a base da alimentação diária. Além disso, a culinária japonesa desenvolveu técnicas sofisticadas de preparo de peixe, como o sashimi e o sushi, que ainda são apreciados até hoje. Nesse contexto, o frango tornou-se uma alternativa acessível e amplamente disponível para satisfazer o desejo por carne. Desde então, o frango tem sido um componente fundamental do yakitori, tornando-se um prato emblemático da culinária japonesa.
A preparação na brasa contribui para o charme e a autenticidade do yakitori. O calor intenso proporciona um cozimento rápido e preciso, resultando em pedaços de frango deliciosamente grelhados, com uma combinação perfeita de sabores defumados, suculência e textura. No entanto, há outro termo chamado “kushiyaki” que se refere a pratos espetados e grelhados feitos com diversos ingredientes, incluindo carne bovina, suína, frutos do mar, legumes e até insetos. Tradicional da cidade de Osaka, o “kushiaky”, surgiu no período Meiji (1868-1912), onde o Japão passou por um processo de modernização e ocidentalização. Foi nesse contexto de mudanças e influências externas que o kushiyaki se popularizou como um prato grelhado. Os espetinhos com ingredientes distintos do frango, ganharam destaque na culinária japonesa, oferecendo uma opção saborosa e versátil para os apreciadores da comida grelhada. Portanto, enquanto yakitori se refere especificamente aos espetinhos de frango que marcam um período na história do Japão: Edo, o termo “kushiyaki” abrange espetinhos com outros ingredientes além do frango, marcando uma outra fase cultural japonesa: Meiji.
É importante que haja um esforço para uma tradução cuidadosa e precisa dos nomes de pratos asiáticos, a fim de preservar sua autenticidade e honrar a cultura e a história por trás deles. Isso inclui trabalhar com especialistas e consultores culinários familiarizados com a culinária asiática, a fim de garantir uma tradução precisa que capture a essência dos pratos e evite equívocos. A educação e a conscientização sobre a culinária asiática também desempenham um papel fundamental. Ao aprender mais sobre os pratos, ingredientes e técnicas culinárias asiáticas, os consumidores podem se tornar mais informados e apreciar sua riqueza e diversidade sem cair em estereótipos ou distorções.