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É hoje

coluna carlos eduardo paletta
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É hoje. A eleição está aí, com toda a sua importância e depois de tantas expectativas. Não faltaram emoções até chegarmos a este dia. Emoções até demais. Pelo menos na esfera discursiva, parecia uma mistura de Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria: fascismo, comunismo, até bomba atômica os russos ameaçam jogar. Preferiria, como já disse aqui neste espaço, uma vida mais calma, uma eleição em que o cidadão desconfiasse mais dos políticos e não visse a disputa como uma luta apocalíptica entre o Bem e o Mal. A polarização dominou a cena. Entre a ilusão e a constatação, parece haver uma preferência pela primeira, em especial diante da avalanche de informações distorcidas nas bolhas da web. O ceticismo político não convive bem com líderes carismáticos forjados no WhatsApp.

Mas a eleição de hoje não se resume ao cargo maior do Executivo federal, onde a estridência é mais percebida. Atualmente – e, sobretudo, depois do chamado orçamento secreto – o Legislativo assumiu protagonismo inédito. Daí porque não devemos desmerecer a escolha daqueles que, pelo menos no cenário atual, parecem ter a chave do cofre. Nosso voto deste domingo também vai definir como será a relação entre Legislativo e Executivo, se mais republicanas, se mais promíscuas. Não nos esqueçamos de que aí reside o grande manancial de escândalos políticos dos últimos tempos.

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“Hoje em dia são cargos de todos os tipos em partidos, jornais, cooperativas, casas de assistência médica e hospitalar, nas municipalidades e nos Estados que os líderes partidários conferem em troca de leais serviços prestados. Todas as disputas entre partidos são não apenas lutas por metas objetivas, mas também e principalmente por patrocínio de cargos.”

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Quem disse palavras tão atuais? Algum comentarista político brasileiro na imprensa? Não. Foi Max Weber, que em 1919 já constatava que a política se tornara uma luta por cargos, em seu magistral ensaio “Política como profissão e vocação”. A atualidade impressiona ainda mais quando ele, mais de cem anos atrás, parece descrever o Centrão: “alguns partidos, particularmente na América, são, desde o desaparecimento dos antigos conflitos sobre a interpretação da Constituição, simples caçadores de cargos, que modificam o seu programa objetivo segundo a chance de atrair votos”.

Eis aí a grande tristeza do momento em que vivemos. Jamais sabemos se estes políticos de TikTok realmente acreditam no que falam ou se almejam somente um pedaço do butim, enquanto difamam seu adversário de ocasião. Alimentando ressentimentos, satisfazem uma audiência que vive da “necessidade pseudoética de sentir-se sempre com a razão” (Max Weber de novo).

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Mas não percamos as esperanças e, muito menos, a fé na democracia. Em algum momento, a excitação política artificial dará lugar a uma consciência mais madura sobre o que significar votar. Se possível – por que não – confiemos que esse momento começa hoje. Por isso, bom voto!

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