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Nono dia: Queluz – Cachoeira Paulista

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José Reis, chamado pelos romeiros de Dr. Bolha por sempre cuidar dos pés dos colegas, precisou de ajuda nesta quinta

Nove dias convivendo 24 horas com quase 90 pessoas de diferentes idades e personalidades, dormindo em colchonetes no chão de escolas, salões comunitários e igrejas. Mulheres em alojamentos separados dos homens, mas compartilhando todas as refeições, orações e reflexões. Na estrada, choro e risos. Dor e alegria e muitas pausas, seja para tirar fotos ou para ajudar o colega debilitado. Um curativo, uma oração e muitas palavras de incentivo para encorajar quem ameaça desistir.

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Na mala, há sempre algo que possa ser cedido: uma pomada, um calçado ou um remédio para aliviar a dor do companheiro de jornada. A Caminhada da Fé é um convite ao compartilhamento, uma oportunidade que não deixei escapar. Observei, escutei, aprendi e saio renovada deste mergulho ao qual me propus. Um aprendizado único que levarei comigo para sempre.

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Conheci pessoas fortes, firmes no propósito de agradecer à Santa Padroeira do Brasil. Maria Alice Nascimento Guimarães, 63 anos, é uma delas. Quer que a família se orgulhe de sua força. “Tô aqui rezando para minha família toda, agradecendo a Deus tantas bênçãos e à Nossa Senhora Aparecida, que é nossa madrinha. Tô muito feliz.” Também estou, Maria Alice. Sua alegria me fortaleceu todos esses dias em que estivemos juntas. Obrigada.

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Emocionada por acompanhar de perto muitas histórias de superação, saio para a Via Dutra, nesta quinta-feira (25), agasalhada e com coragem para registrar o penúltimo dia da Caminhada da Fé. Cruzo com Lindeberg Gonçalves, 50 anos. Cansado e com dores nas pernas, ele se recusa a parar. Quer chegar a pé a Aparecida para agradecer por sua saúde. Há cinco anos, Lindeberg se curou de um câncer no pescoço. Na bagagem, gratidão pela santa e dez presentes, um para cada dia de caminhada, para serem entregues à primeira criança que cruzar durante a romaria. O gesto, Lindeberg divide com os companheiros. Cada dia, um de nós recebe a missão de entregar o presente. Nesta quinta, foi minha vez. Ruan, de 4 anos, cruzou o meu caminho e ganhou o pequeno embrulho que guardei no bolso do casaco. Obrigada, Lindeberg, pelo sorriso que ganhei do Ruan.

Continuo meu caminho, avisto Seu Eloy e, mais uma vez, admiro sua força de vontade. Aos 74 anos, o farmacêutico aposentado Eloy Lopes Duarte é exemplo para muitos de nós. Sempre sorridente, disposto e gentil, ele não aparenta dificuldade alguma para caminhar os 300km até Aparecida. “Qual é o segredo, Seu Eloy?” “É ter fé de chegar em Aparecida”, me diz com a tranquilidade de um garoto. “Mas o que senhor faz nos pés?”, insisto. “As vezes, faço o sinal da cruz nos pés, para que eles não tenham bolhas, não tenham ferimento.” Obrigada, Seu Eloy, por nos ensinar que a fé pode tudo.

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Nesta sexta-feira (26), Maria Alice, Lindbergh, Seu Eloy e todos os outros colegas de jornada vão realizar o desejo de chegar a pé à Aparecida. Decidi que não vou com eles, não fisicamente. Quero chegar antes e me posicionar bem para registrar o rosto de cada um. Eu mereço fazer esse registro. Eles merecem esse registro.

Obrigada, companheiros e companheiras de caminhada por todos esses dias tão intensos de compartilhamento. Obrigada por me acolherem, por me contarem suas histórias, por sorriem para minha câmera e me ajudarem a encontrar meus óculos que insistiam em se esconder de mim. E vocês, colegas da redação da Tribuna, podem ir reservando um lugar na mesa do café da tarde, pois vou voltar cheia de casos para contar.

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