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Segundo dia: Torreões – Santa Bárbara do Monte Verde

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Às 3h, quando o despertador tocou, agradeci por ter conseguido descansar mesmo com a falta do meu travesseiro predileto. Juro que à noite, ao brigar com o sono, cheguei a pensar se encontraria um motoboy que pudesse trazê-lo de Juiz de Fora a Torreões. Como já disse aqui, tive que desapegar de um dos meus dois travesseiros, mas concluí que não sou evoluída a tal ponto. O cansaço do primeiro dia de caminhada – e as poucos horas de sono da noite anterior – me derrubou, mas a falta do meu travesseiro continuava sendo uma preocupação que eu teria que resolver.
Malas arrumadas e despachadas, seguimos para o café no refeitório da escola de Torreões. Às 4h30 já estávamos prontos para iniciar o segundo dia de percurso até Santa Bárbara do Monte Verde.

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Na rua, os romeiros rezam o terço, pedem proteção aos Santos e partem para o desafio: são 36 quilômetros, quatro a mais do que o anunciado anteriormente (mas isso eu só descobri depois, ainda bem).

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Comecei empolgada, feliz por estar disposta e sem dor. Decidi me agasalhar mais: duas calças e três blusas, além do casaco corta vento, touca e luvas de lã. Mas a madrugada não estava tão fria quanto à anterior e, logo que o dia amanheceu, fui me desfazendo das roupas.

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Os primeiros 15 quilômetros eu percorri ao lado de vários grupos. Conversa animada, muitos casos, risos e fotos, muitas fotos. Cada paisagem mais linda que a outra, difícil resistir a uma pose.

Na altura de Pirapetinga, eis que surgem os maravilhosos bolinhos de chuva de dona Aparecida Guedes. Como todos os anos, ela acordou de madrugada para preparar guloseimas para oferecer aos peregrinos que passariam na porta do sítio onde mora. A filha Gisele e a afilhada Alice ainda colheram laranjas do pé para os romeiros. Um carinho que comove e fortalece quem tem ainda um longo trecho a percorrer.

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Encantada com tamanha delicadeza, me deixei envolver pela energia do momento e fui me desligando do grupo. Quando percebi, tinha acelerado os passos e estava bem à frente, sozinha em meio a um vale cercado por eucalipto.

A felicidade de estar naquele lugar era tanta que só pensei em agradecer pela oportunidade do momento. Respirei o ar puro e a emoção tomou conta.

Ali comecei minha conversa com Deus. Agradeci por tudo que conquistei na minha vida e pela coragem com a qual enfrento minhas dificuldades. Pensei na minha mãezinha, dona Eny, que, aos 85 anos, encontrou na fé o conforto para superar a dor de perder uma filha. Pensei na minha irmã que nos deixou há dois meses e senti ela próxima a mim, livre do corpo doente, sorrindo e feliz. As lágrimas brotaram, e eu me entreguei àquela sensação indescritível. Ali tive a certeza de ter encontrado o verdadeiro sentido dessa caminhada. Estar comigo mesma, refletir sobre o sentido da minha vida, me sentir. O silêncio me disse muito, e foi maravilhoso!

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Segui sendo minha única companhia por pelo menos mais 15 quilômetros até cruzar com Sr. Eloy e Sr. Odair Henrique Duarte, 69 anos. “Tudo certo, Seu Eloy?” “Tudo bem, graças a Deus!”. E seguimos os três na expectativa de que “está chegando”. Mas não estava!

Subimos um morro, outro morro e nada… Alcançamos um grupo de quatro peregrinas, subimos mais morros e nada… “Cadê Santa Bárbara, meu Deus?”. Meu pé já anunciava uma possível bolha quando surgiu o carro de apoio, retornando em busca de alguém que quisesse ser resgatado. Decidi seguir com ele os últimos quatro quilômetros até a Escola Municipal Doutor Manoel de Carvalho Prata, onde nos hospedamos. O dia tinha sido perfeito demais e não merecia nenhuma intercorrência.

À noite, descansando no “meu quarto/sala de aula”, dois fatos fecharam meu dia com chave de ouro. O brinco que perdi na caminhada, a colega Hellen achou na estrada e procurou a dona até me encontrar. E Maria Alice, companheira de grupo, encontrou no comércio de Santa Bárbara um travesseiro alto como o meu. Eita, povo bacana!

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Nesta sexta-feira (19) seguiremos para São Pedro do Itaguá, onde ficaremos hospedados em uma fazenda.

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