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‘A Casa do Dragão’ solta fogo pelas ventas

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Oi, gente.

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“Game of Thrones” foi um dos maiores fenômenos televisivos da década passada. Acompanhamos por oito temporadas as histórias de personagens como Jon Snow, Daenerys Targaryen, aquele monte de Starks e Lannisters, Brienne, Sandor Clegane, Sam Tarly, Theon Greyjoy e outros 4510436 nomes que passaram pela produção em algum momento. Foram vários momentos inesquecíveis na história da TV, como o chocante plot twist do nono episódio da primeira temporada, o Casamento Vermelho, o nascimento dos dragões e o primeiro dracarys de Daenerys, o assassinato na privada, a morte do reizinho psycho, a Batalha dos Bastardos, a vingança de Arya Stark, a Batalha de Hardhome, a luta entre Oberyn Martell e o Montanha, a morte de um certo personagem que me fez escrever uma coluna em que desistia de “GoT”…

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Pena que a última temporada e o series finale foram uma imensa decepção para tantos fãs da série, este jornalista incluído. Os fãs botaram parte da culpa em George R. R. Martin, criador da série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo” – e que não termina de escrever a saga, parece que só de birra -, mas principalmente em David Benioff e D. B. Weiss, a dupla de showrunners que dava a palavra final na produção e que insistiu que “Game of Thrones” não tivesse mais novas temporadas, acelerando ou ignorando várias tramas importantes.

Não faltou quem falasse “não quero mais saber de ‘Game of Thrones’” ou desanimasse de tentar começar a ler os livros (olha eu aqui de novo, mas juro que começarei). Porém, quando a HBO anunciou a produção de “A Casa do Dragão”, os fãs sentiram o coração balançar e a memória afetiva dos bons momentos de “GoT” passou a falar mais alto. Entre os detalhes conhecidos de antemão veio a informação de que a série teria como base o livro “Fogo & Sangue”, passado pouco menos de dois séculos antes dos eventos de “Game of Thrones” e que tem a Casa Targaryen – a única casa de senhores de dragões que sobreviveu à Destruição de Valíria e criadora do Trono de Ferro de Westeros – como protagonista. A notícia de que a produção seria tocada por outros showrunners foi um alívio.

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Mesmo assim, permaneciam três grandes dúvidas: conseguiria “CdD” ser tão arrebatadora quanto a sua predecessora? Não cairia na tentação de repetir arquétipos (“olha aqui a Cersei Lannister de ‘A Casa do Dragão’”) ou se apoiar em easter eggs e fan services? Não cometeria os erros de “GoT” em suas últimas temporadas? Pois bem: se ainda pode ser considerada meio limão abaixo do que vimos em “Game of Thrones”, “A Casa do Dragão” é capaz de trazer de volta os fãs e reviver a tradição de colocar todo mundo em frente à TV domingo à noite, no famoso “DominGoT”.

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Acompanhamos na primeira temporada de “A Casa do Dragão” alguns dos eventos mostrados na segunda metade de “Fogo & Sangue”, em que os meio-irmãos Rhaenyra e Aegon II travam uma brutal guerra civil pelo Trono de Ferro de Westeros. E é uma trama em que temos o puro suco de “Game of Thrones”, com intrigas palacianas e políticas, traições, mortes, cabeças cortadas, batalhas empolgantes, personagens bem construídos, diálogos e frases que ficam para a história, plot twists de arregaçar, finais de episódios bombásticos, a boa e velha vontade de xingar personagens e muitos, muitos dragões.

Mesmo que (ainda) não tenha vilões memoráveis, daqueles que sabemos que vamos odiar até o fim (talvez Otto Hightower seja o que chegue o mais próximo disso), a produção soube tratar muito bem os conflitos gerados pela decisão do rei Viserys (Paddy Considine) de declarar sua única filha, Rhaenyra (Milly Alcock quando adolescente e Emma D’Arcy quando ela se torna adulta), como herdeira do trono, contrariando a decisão de seu antecessor de que apenas homens poderiam usar a coroa – o que já havia acontecido quando ele foi consagrado rei no lugar da prima Rhaenys Velaryon (Eve Best). Quem fica mais revoltado é seu irmão, Daemon (Matt Smith), que seria o herdeiro “natural” quando o rei morresse – e o caldo engrossa ainda mais depois que Viserys se casa com a melhor amiga de Rhaneyra, Alicent (Emily Carey e Olivia Cooke nas versões teen e pagadora de boletos), gerando dois filhos homens, Aegon e Aemond.

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Esse conflito foi o responsável por deflagrar alguns dos melhores momentos da temporada, pródiga em traições, intrigas, fofocas, mortes a granel, dragões soltando fogo pelas ventas, alianças e casamentos arranjados que, na melhor tradição Targaryen, juntaram tio com sobrinha, irmão com irmã, primos e outros arranjos que são difíceis de acompanhar. Alguns episódios conseguem se igualar a momentos inesquecíveis de “Game of Thrones”, e, se existe algum defeito, ainda não encontrei.

“A Casa do Dragão” também teve o desafio e a coragem de trocar boa parte do elenco no meio da temporada, quando a série deu um salto de dez anos, e também no oitavo episódio, quando houve outro salto temporal – desta vez, de seis anos. Ainda bem que a série fez uma ótima escolha de elenco, com Emma D’Arcy, Olivia Cook, Milly Alcock, Paddy Considine, Eve Best, Matt Smith, Rhys Ifans, Steve Toussaint (Lorde Corlys Velaryon) e Ewan Mitchell (a versão quase adulta de Aemond Targaryen) brilhando na tela.

Antes de terminar, lembrei que “A Casa do Dragão” tem, sim, um grande defeito: a segunda temporada deve estrear, pelo que dizem, apenas em 2024, e é uma tortura ter que esperar tanto tempo assim.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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