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Mulder and Scully

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Oi, gente.

E não é que “Arquivo X” voltou? Não é a primeira vez que isso acontece, afinal tivemos neste século os casos de “Family guy” e “Arrested development”, mas ver David Duchovny e Gillian Anderson encarnando novamente os papéis de Fox Mulder e Dana Scully é peculiar, no mínimo. E por uma farta colher de motivos: “X-Files” é um produto dos anos 90, em que a dinâmica da TV era diferente, seja em ritmo, roteiro, efeitos especiais, público, formato. Além disso, foram mais de 200 episódios em nove temporadas, mais que suficiente para fechar as pontas do grande mistério que marcou a mitologia do programa criado por Chris Carter – e que já havia passado por uma série de desgastes, como ter acabado bem depois do que deveria, a saída dos protagonistas, um final que muita gente não gostou, dois filmes que não acrescentaram muita coisa à mitologia.

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Mas “Arquivo X” também possui seus trunfos. Foi um dos programas emblemáticos do período, reunindo na mesma receita ficção científica, suspense, terror, investigação policial, teorias da conspiração, personagens carismáticos. Elementos que serviram para termos, anos depois, séries bem sucedidas como “Lost”, “Fringe”. E não esqueçamos da nostalgia da galera que acha que o passado é que era bom e dos Excers, fãs da série e que até hoje discutem episódios, mistérios, personagens, teorias conspiratórias e o próprio desfecho da saga dos agentes do FBI que sabiam que a verdade está lá fora. Mesmo tendo se passado quase 14 anos do final da temporada derradeira, “The X-Files” (nome da série nos EUA) teve mais de 16 milhões de espectadores no episódio de estreia da última temporada, no último domingo, lá na terra de Obama, número superior ao da estreia de quatro das nove seasons anteriores.

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Antes de falar do episódio em si, um detalhe: nunca consegui assistir a “Arquivo X” do início ao fim. O motivo? Morar em Volta Redonda na década de 90, quando a Record (emissora que transmitia “TheX-Files”) só chegava em UHF e em poucos lares. Conhecer os mistérios e conspirações enfrentados por Mulder e Scully rolava apenas em eventuais fitas VHS que chegavam às nossas mãos ou quando ia ao Rio, e mesmo assim contando com uma série de combinações favoráveis. Quando a TV por assinatura chegou à minha casa, em 1999, “Arquivo X” estava quase no final e era muito difícil ter que assistir do início para entender tudo. E assim continua até hoje.

Mas falemos, enfim, do retorno. É bom ter “Arquivo X” de volta, mostrando que Chris Carter e cia. já aprenderam uma das manhas deste novo século: temporadas enxutas para ter menos enrolação e assim manter a audiência lá em cima – claro que também houve a questão de agenda dos atores principais. A série ainda se aproveita dos efeitos especiais mais modernos, pega algumas coisas da linguagem atual da televisão, mas sabe entregar aos fãs aquilo que eles mais gostavam nos anos 90: uma conspiração ainda maior que a que marcou “The X-Files” em sua primeira encarnação, episódios com “o caso da semana”, a volta do Canceroso, a imortal e clássica música-tema, Mulder querendo acreditar e, ao mesmo tempo, desiludido por ver que tudo no que ele acreditou e tudo contra lutou eram fichinha perto da conspiração da vez – e a percepção que o mundo mudou e muito após o Onze de Setembro, desde a paranoia contra o terrorismo, redes sociais, a falta de privacidade, os órgãos de espionagem que fuçam até nossas ligações, SMSs, postagens, fotos, os tentáculos onipresentes e oniscientes da internet…

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Óbvio que não há mais o efeito surpresa de outrora, visto que “Arquivo X” é parte integrante do nosso imaginário e inconsciente pop, mas a volta da série consegue superar os pequenos defeitos notados – soluções rápidas e poucos explicadas entre eles nos dois primeiros episódios – para mostrar que ainda existe muita coisa lá fora a ser descoberta, e que vale a pena estarmos no mesmo barco que Mulder e Scully.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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