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Os trem que a gente ouve, Parte 1

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Oi, gente.

O ato de ouvir música, mas qualquer música mesmo, ficou fácil e barato como nunca antes na história da humanidade, dos dinossauros e demais criaturas já extintas.Obviamente, as opções são praticamente infinitas se a cidadã ou cidadão pagar em dia o seu serviço de streaming preferido. Por isso, tiramos algumas horas nas últimas semanas para ouvir alguns dos lançamentos mais interessantes dos últimos meses, e faremos aquela resenha esperta e sincera a respeito do que chegou até nossos ouvidos. Para esta primeira semana, vamos com o que há de novo nas praias sonoras de Cat Power, Aphex Twin, Alice in Chains e Smashing Pumpkins.

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Semana que vem tem mais.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

 

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APHEX TWIN, “Collapse”

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Personalidade mais excêntrica, insana e peculiar da música contemporânea, o britânico Richard D. James continua a ser um dos grandes nomes da música eletrônica, principalmente no que ela tem de experimental e instigante. “Collapse”, mais recente EP lançado com o pseudônimo Aphex Twin, reúne cinco músicas em 28 minutos e é uma das melhoras coisas que você pode e deve ter ouvido este ano. E que vai ouvir, ai de ti se correr do pau.

Batidas nervosas, melodias singelas, senso harmônico incomum, mudanças de ritmo, a obsessão com os menores detalhes e barulhinhos mil – verdadeira colcha de retalhos em miniatura – fazem a cama para as esquisitices de Aphex Twin, autor de clássicos como a aterrorizante “Come to Daddy” e que continua a fazer um som que deixa o ouvinte desorientado em habitat natural – e querendo ouvir “Collapse” várias e várias vezes.

 

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THE SMASHING PUMPKINS, “Shiny and Oh So Bright Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun”

Geral ficou feliz quando anunciaram que James Iha e Jimmy Chamberlin, dois dos membros originais do Smashing Pumpkins, retornaram à banda para gravar um novo álbum com Billy Corgan, a primeira vez desde “Machina II/The Friends & Enemies of Modern Music” (2000) que pelo menos três quartos da formação clássica trabalhavam juntos – a baixista D’Arcy Wretzky prefere continuar no seu cantinho. Melhor ainda, com produção de Rick Rubin (Johnny Cash, Red Hot Chili Peppers, System of a Down). Além do trio de membros fundadores, o guitarrista Jeff Schroeder – que tem acompanhado Corgan desde 2007 – é o quarto integrante oficial do grupo.

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Infelizmente, a expectativa é frustrada pelo fato de “Shiny and Oh So Bright Vol. 1…” ser um bom álbum, sim senhor, mas… apenas bom. Bonzinho. Legal. Você até sorri, mas só. Pode parecer conversa de velho saudosista, mas a verdade é que o décimo trabalho de estúdio dos Pumpkins segue o padrão dos trabalhos pós-“Machina II…”: alguns momentos inspirados, que remetem especialmente ao clássico supremo “Mellon Collie and The Infinite Sadness” (1995) e “Machina/The Machines of God” (2000), mas parece faltar a fagulha, o arrebatamento que sentíamos ao ouvir um “XYU”, “The everlasting gaze”, “Thirty-Tree”, “1979” e “Bullet with Butterfly Wings”, só para ficar nos dois álbuns citados.

Das oito faixas que integram o disco, “Silvery sometimes (Ghosts)” e “Solara” figuram entre as preferidas. Esperamos que o provável Volume 2 de “Shiny and Oh So Bright” traga uma banda mais equilibrada entre o desejo de reviver os bons momentos e a necessidade de olhar para frente.

 

ALICE IN CHAINS, “Rainier Frog”

O sexto álbum do Alice in Chains – e terceiro com William DuVall desde que este assumiu o microfone em substituição ao vocalista original, Layne Staley, morto em 2002 – não chegou para trazer grandes novidades, mas dá gosto de ouvir. Porque, no caso do AiC, a fidelidade à “tradição” não se traduz em mera nostalgia e repetição desprovida de inspiração, mas sim aquele algo a mais que, às vezes, só a idade e a experiência podem trazer. É um bando de senhores fazendo o que gosta, e mostrando que ainda encontra paixão nisso.

Para os saudosistas e neófitos no grunge, “Rainier Frog” mostra o grupo de Seattle mandando o que sempre soube fazer de bom: rock pesado como uma bigorna da ACME, denso, desacelerado. mas com seus momentos mais melodiosos, quase pop, e harmonias vocais que nos fazem sentir que 1993 nunca chegou ao fim. Músicas como “Red Giant”, “The one you know”, “So far under” e a faixa-título mostram que o Alice in Chains ainda tem um longo e merecido caminho pela frente.

 

CAT POWER, ‘Wanderer”

Cat Power, o alter ego da americana Charlyn Marie “Chan” Marshall , demorou longos seis anos para lançar o sucessor de “Sun”, mas a espera valeu a pena tanto para os fãs quanto para quem foi apresentado à cantora e compositora neste complicado 2018. Porque “Wanderer”, seu décimo trabalho de estúdio, é dolorosamente lindo de se ouvir. Fruto de um período em que encarou todo tipo de problemas (de saúde, consumo de coisinhas que podem fazer mal) e alegrias (o nascimento do filho, que faz uma “ponta” na capa), “Wanderer” – como já deixa claro o título – é um passeio por boa parte do que a música americana tem de melhor para oferecer, como o rock, blues, folk e seu cancioneiro tradicional.

Desde a faixa-título que inicia o álbum, em tom religioso, passando por “In your face”, “You get”, “Woman” (com participação de Lana Del Rey), “Horizon” e o encerramento com uma ainda mais melancólica “Wanderer/Exit”, Cat Power coloca para fora seus perrengues, demônios, mas mostra que estamos diante de uma mulher que tem força, personalidade. Que leva as porradas metafóricas da vida mas, assim como uma boa boxeadora das dores do mundo, pode até ficar nas cordas, mas jamais beija a lona.

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