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Androides sonham com… Barcos?

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Oi, gente.

A editora Novo Século lançou no ano passo o selo Geektopia para publicar séries da gringa Image Comics fora do consagrado – e saturado – formato de super-heróis da Marvel e DC. Os dois primeiros títulos lançados na nossa terra do mulato inzoneiro foram “The Wicked + The Divine”, ainda em 2016, e “Alex + Ada”, que acabou de chegar por aqui.

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“Alex + Ada” é o primeiro trabalho totalmente digital de Jonathan Luna, que forma com o irmão Joshua os Luna Brothers (“Girls”, “Ultra”). Desta vez, porém, ele uniu forças com a escritora Sarah Vaughn para criar uma história de ficção científica em 15 capítulos que discute os limites do que é ser humano e até que ponto um robô, um androide, pode ser considerado uma propriedade ou ter direitos como os mamíferos pensantes que dominam esta esfera.

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O personagem principal é Alex, um sujeito ordinário e de vida ordinária que tem passado os últimos meses na deprê de ter sido largado pela noiva. Vida social quase nenhuma, pouca vontade de se abrir a novos relacionamentos, passa os dias num estado de melancolia típico de quem ainda não se recuperou. Ele ganha da avó, que tem um “namorado” cibernético, a versão feminina do mais moderno androide já construído, uma Tanaka X-5 programada para satisfazer todas as ordens de seu dono – todas as ordens mesmo, incluindo as safadezas que você imaginou – mas sem capacidade de pensamento livre ou autoconsciência.

Depois de relutar, Alex decide ficar com o presente e batiza a androide com o nome Ada, mas não fica satisfeito. Falta algo à moça robótica, que além de seguir ao pé da letra as ordens de seu dono não possui qualquer traço de personalidade, na linha “se você gosta, eu gosto”. Ele vai parar em um fórum virtual secreto onde encontra pessoas com as mesmas frustrações, e descobre que pode “desbloquear” Ada – que, na verdade, tem no seu software a capacidade de autoconsciência e livre arbítrio, bloqueados após a primeira Inteligência Artificial senciente perder o controle e matar um monte de pessoas.

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Apesar dos riscos, ele permite o “desbloqueio” da androide, e a partir daí “Alex + Ada” mostra todas as consequências do ato de Alex e vai fundo nas discussões que já se desenhavam desde a primeira edição, frequentes em diversas histórias de ficção científica, de “Eu, Robô” até “Star trek”: qual é a definição de vida? Androides podem ter os mesmos direitos de seres humanos? A autoconsciência robótica confere automaticamente a liberdade do construto? É possível ter consciência e não possuir alma? Robôs podem ser maus? Sonhar? Podemos ter a propriedade de algo que possui vontade própria, mesmo que tenhamos pago por ela?

“Alex + Ada” também consegue ter tempo e espaço para discutir nossas próprias aflições particulares, mostrando personagens que precisam lidar com a solidão, o isolamento, a dor da perda e a dificuldade de se relacionar num mundo em que todos podem estar conectados – o que fica evidente nas conversas transmitidas por pensamento e nos longos silêncios das interações cara a cara -, mas consegue desenvolver todas as histórias a contento.

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Se existe algum defeito na série fica pela inexperiência de Jonathan Luna com a ilustração digital, que apresenta alguns problemas de proporção em vários momentos – e que se torna mais incômodo quando se percebe que a casa de Alex é muito maior por dentro que por fora, ou que os sofás, camas e mesas são gigantescos em relação aos personagens. Mas são poréns que impeçam “Alex + Ada” de ter uma história que mereça a leitura por parte de quem gosta de boas HQs.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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