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“American Vandal” de volta à escola

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Oi, gente.

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Quem acompanha (rá!) a coluna talvez lembre que a temporada de estreia de “American Vandal”, série lançada pela Netflix em 2017, foi recomendada por aqui no já distante 3 de janeiro. Na ocasião, comemoramos o fato do serviço de streaming ter confirmado o segundo ano do seriado, daí foi só felicidade e alegria quando apareceu a tarja “novos episódios” na janelinha do programa. Assim como aconteceu na primeira temporada, foi questão de assistir aos oito episódios mais rápido que o voo de uma andorinha africana e perceber que o que era muito bom ficou ainda melhor.

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Para quem (ainda) não conhece, “American Vandal” satiriza aquelas séries documentais de investigação que passam na TV por assinatura. A primeira temporada foi dedicada a investigar o responsável pela pichação de pintos (sim, pintos, pênis, o órgão sexual masculino) nos carros de 27 professores de uma escola numa cidadezinha na Califórnia, tarefa assumida pelos alunos-documentaristas Peter Maldonado (Tyler Alvarez) e Sam Ecklund (Griffin Gluck). Além de mostrar de forma “séria” a reconstituição do crime, o programa ainda usava da ironia e humor para mostrar o microcosmo das escolas americanas. Resultado? Sucesso, e uma segunda temporada garantida.

Mas seria muito sem graça e repetitivo manter os mesmos cenário e personagens, daí a solução foi mudar de ares. Como o primeiro “American Vandal” se tornou um fenômeno no “mundo real”, a ponto de ser “comprado” pela Netflix, Peter e Sam são procurados por gente de todo o país, implorando que eles investiguem os casos mais bizarros – ou parecidos com o que eles solucionaram, inclusive o de um piloto de avião que teria “desenhado um pinto” no céu.

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Mas quem chama a atenção dos jovens é Chloe Lyman (Taylor Dearden), aluna de uma tradicional escola católica no estado de Washington. Segundo a adolescente, a instituição de ensino foi alvo de três crimes escolares cometidos por um sujeito que se intitula “The Turd Burglar”. No primeiro – e mais grave deles -, o meliante misturou um produto na limonada do refeitório e provocou um ataque generalizado de diarreia, com vídeos de alunos se “aliviando” pelos corredores (faltou privada para tanta gente) viralizando na internet. O segundo envolveu uma piñata cheia de fezes, que atingiu diversos alunos de uma turma no Dia de Kurt Vonnegut (!); no terceiro, em um jogo de basquete, dezenas de alunos foram atingidos por cocô de gato em pó disparado por aquelas bazucas que lançam camisetas.

Peter e Sam vão para o noroeste americano e passam a investigar o caso, que para a polícia já tem um culpado: o excêntrico Kevin McClaine (Travis Tope), denunciado pelo próprio melhor amigo e que assume toda a culpa após um bizarro interrogatório. O jovem é expulso da escola e colocado em prisão domiciliar enquanto aguarda julgamento, mas ele diz ser inocente apesar da confissão.

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A partir daí, “American Vandal” repete – em parte – a receita da temporada anterior, mantendo o clima de documentário mas sem esquecer da ironia, afinal estamos falando de crimes envolvendo cocô, e retratando alguns dos personagens típicos do high school. Desta vez, porém, a série tem um tom um pouco mais sério, pois trata de temas como inclusão – personificada no grande astro do time de basquete da escola, um negro vindo da região pobre da cidade -, o valor da confiança e da amizade, a solidão, o sentimento de inadequação e a necessidade de ser aceito tanto pela sua origem quanto por suas preferências sexuais.

Tudo isso amarrado por um roteiro muito bom, que mantém o clima de suspense até o surpreendente desfecho. E aí também vale destacar mais um dos grandes méritos da série, que é mostrar o quanto é fácil tirar conclusões precipitadas a partir de evidências fora de seu contexto original ou de testemunhas que viram mais (ou seria menos) do que imaginam. Tudo isso faz com que Peter e Sam sigam linhas de investigação que levam a acusações equivocadas e capazes de abalar amizades. Algo que vale não apenas para nós, jornalistas, mas para toda a geração que transformou o WhatsApp no “Jornal Nacional” do século XXI.

Ao melhorar o que já era bom, “American Vandal” segue como uma ótima sátira aos programas do gênero, mas que fica ainda mais interessante por se aprofundar naquilo que nos torna humanos.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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