Oi, gente.
Não queria escrever sobre a “Liga da Justiça de Zack Snyder”, que chegou ao Brasil na última quinta-feira (18) no esquema Video on Demand (VoD), mas fiquei tão irritado com o filme que vou perder meu tempo com uma produção que deveria ter sido batizada como “A cansativa, ególatra, exagerada, pretensiosa, exibicionista e confusa Liga da Justiça de Zack Snyder”, a prova de que uma pessoa pode enganar várias pessoas o tempo inteiro. Ou o filme que deveria ser creditado como “Dirigido por Zack Snyder e fanboys que acham que os filmes devem ser feitos só para eles”. Já li e ouvi por aí muita gente comemorando que, agora, os estúdios “vão ouvir os fãs”, mas espero que tenha sido a primeira e última vez.
Parece que odiei o filme, né? Não, não odiei, ou talvez tenha odiado e ainda não percebi. É mais raiva por desperdiçarem tempo com um negócio tão pretensioso, longo, cansativo. E que se tornou um monumento ao ego do Zack Snyder, que foi esperto de usar o “#ReleaseSnyderCut” a seu favor depois que soltou a isca de que haveria um corte feito por ele, jamais exibido.
Não se pode negar que o cara é bom de marketing e de lábia, pois bastou soltar uma meia dúzia de fotos e artes conceituais (Superman de uniforme preto, vestido de Carmen Miranda etc) para atiçar a libido dos fãs e convencer a Warner não só a lançar o tal “corte” – que pelo jeito nunca existiu – como a liberar 70 milhões de Bidens para gravar cenas extras, dar um tapa no CGi e outras coisas.
(OK, alguns vão lembrar que ele largou o filme em 2017 por causa do suicídio da filha, a quem dedicou esse novo “corte”, do easter egg ao serviço de prevenção ao suicídio que ele colocou em uma cena, mas mesmo as boas intenções podem vir embaladas por pretensão e egolatria, vem comigo que explico qual é.)
Vamos começar pelos pontos positivos. Excluir do filme – creio eu – todas as cenas filmadas por Joss Whedon já é um bom começo, principalmente porque nos livramos do CGI porco que “apagou” o bigode do Superman e melhorou o visual da armadura do Lobo da Estepe. As novas cenas de ação também ficaram muito melhores, em especial a batalha final.
Quanto à história em si, ela ficou meio limão mais coerente, mas seria melhor ainda se o Snyder recordasse o conceito de montagem cinematográfica. O Ciborgue ganhou muito mais evidência na trama, e passamos a entender o que levou o personagem a ser tão de mal com a vida (pena que o Ray Fisher seja tão carismático quanto um cinzeiro). As motivações do Lobo da Estepe ficaram muito mais interessantes; ele passou do genérico “quero dominar essa bagaça e detonar geral” para o vilão que busca mostrar ao seu “patrão’, Darkseid, que deixou de ser vacilão. Até os motivos para ressuscitarem o Superman ficaram mais razoáveis.
Agora, é hora de falar dos muitos defeitos da “Liga da Justiça de Zack Snyder”: duração, ego, maneirismos e fan services.
Para começar, são QUATRO HORAS LAZARENTAS DE FILME. Dá até para imaginar o diálogo do Zack Snyder chegando na casa do responsável por montar o longa.
“Fala, mano, beleza?”
“Tirando o que tá ruim, tá tudo bem, mano.”
“Demorô. Taqui o filme.”
“Quantas horas de filme, brother?”
“Quatro horas.”
“Quatro horas? Tá doido, shock? Como vou montar isso?”
“Dá seus pulos aí, manolo. Tô ralando peito, que tenho que ir no Twitter postar uma foto do Superman vestido de Carmen Miranda.”
“Mano, isso não vai dar certo.”
A montagem é o maior dos problemas. Tivesse metade do tempo, poderíamos dizer que a versão do Zack Snyder era muito superior à que chegou aos cinemas em 2017. Porém, como parece que o diretor quis usar TODAS AS CENAS FILMADAS, essa “Liga da Justiça” se torna arrastada, monótona e cai na vala comum do original. Com menos de uma hora de filme, o desespero do “não acontece nada nessa desgraça” já batia forte. São diálogos expositivos e sequências inúteis que estão ali só para afagar o ego do diretor.
O que é o segundo problema do filme, aliás. Zack Snyder levou a sério a “fama” de “visionário”, de que a história que havia pensado para a Liga era o ápice da sétima arte, e aí tome pelo menos duas horas de cenas desnecessárias, na vibe “viu o que aconteceria se me deixassem fazer a trilogia como imaginei?” E a notícia de que teremos uma “versão em preto e branco” (mas já não era assim?) do filme só reforça o sentimento do quão pretensioso o diretor se tornou com esse fuzuê todo.
Não podemos esquecer dos maneirismos do Zack Snyder, pois o ego sempre vem acompanhado do exagero. Se ele cortasse metade das cenas em câmera lenta, o filme já teria meia hora a menos. E tome imagens dessaturadas que dão a sensação de que tudo é cinza, sem contar que parece noite mesmo ao sol do meio-dia, de tão escuro e “sombrio’ que é o filme. E aí vem a trilha sonora que ok, tem Nick Cave, a música do This Mortal Coil, mas que no geral entrava nos momentos mais inadequados ou nada tinha a ver com a cena. Imagine, sei lá, que alguém colocasse uma Celine Dion enquanto os caras do “Velozes e furiosos” estivessem capotando seus possantes.
Por fim, o maldito fan service. A “Liga da Justiça de Zack Snyder” e “A ascensão Skywalker” são os melhores exemplos de filmes que ficaram uma desgraça porque os diretores satisfizeram o desejo de meia dúzia de fãs que são corajosos apenas quando estão no porão da casa das respectivas mamães. DUVIDO que vários desses agrados estavam no roteiro original, foram enfiados ali só para deixar a turminha do Reddit com o mamilo endurecido e criar buzz para virem, agora, com o tal do “#ReleaseSnyderUniverse”.
Um exemplo? O uniforme preto do Superman. Ele muda em nada a história, não tem explicação, motivação, foi só para os iludidos de sempre gritarem “cara, esse Zack Snyder é o cara!!!”. Cara de pau. E o epílogo com o Coringa (que atuação vergonhosa, Jared Leto) e a inclusão de um certo alienígena verde? Que troço odioso. Nem a presença de Darkseid tem justificativa.
“A Liga da Justiça de Zack Snyder”, infelizmente, não é um “Blade Runner” para merecer uma “versão do diretor”. Com tanta vontade de satisfazer seu ego e fazer média com os fãs, o diretor perdeu a oportunidade de entregar um filme que superasse o original, ficando no mesmo nível de mediocridade ao se preocupar tanto em se fazer épico e, ao final, deixar tudo cansativo, pretensioso e enfadonho.
Só espero, pelo menos, que não me venham com uma campanha pelo “Esquadrão Suicida de David Ayer.”
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.