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É tão ruim que até fica pior

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Oi, gente.

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Como diria o ambulante de busão, eu poderia estar comentando os filmes e seriados a que assisti e os quadrinhos que li durante as férias, mas estou aqui para relembrar – ou apresentar – uma verdadeira porcaria do passado distante, daquelas que poderíamos dizer “deixa isso quieto, pelamordedeus”. Mas há momentos em que é gostoso ser chato, por isso voltamos do descanso prolongado a fim de escrever sobre o Sigue Sigue Sputnik, notória banda inglesa dos anos 80 ressuscitada em minha memória ao encontrar com velhos e bons amigos de rádio comunitária em Volta Redonda. Música, afinal, é uma coisa que reforça nossa amizade, mesmo quando ela é muito ruim.

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Então vamos lá, começando pelo contexto histórico. Sabe quando dizem que determinado artista estava à frente do seu tempo? Pois era isso que o Sigue Sigue Sputnik meio que conseguiu, só que de forma muita errada. A banda surgiu em 1982 por obra e graça do senhor Tony James, que havia tocado com um tal Billy Idol na Generation X e estava a fim de uma onda diferente. Daí foram recrutados o guitarrista Neal X, dois (!) bateristas, Chris Kavanagh e Ray Mayhew. Para os vocais e teclados, Martin Degville e Yana Yaya, que trabalhavam com moda e tinham zero experiência musical – dentro da proposta de Tony James de escolher os integrantes do grupo por conta do visual, e não pelo talento musical.

A proposta/promessa do Sigue Sigue Sputnik era ser “a quinta geração do rock”, misturando o gênero à música eletrônica e new wave, com letras sobre sexo e tecnologia inspiradas por filmes como “Laranja Mecânica”, “O Exterminador do Futuro”, “Blade Runner” e “Mad Max”. O visual tinha por inspiração o glam rock de T. Rex e New York Dolls, o punk rock, hard rock farofa, penteados inacreditáveis e outras coisas bregas dos anos 80. O burburinho era tão grande que gravadoras procuravam Tony James antes mesmo de terem feito um show sequer, e inicialmente recusadas porque “ainda não era a hora”.

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Quando a hora chegou, o contrato foi fechado com a EMI. Para animar ainda mais os ansiosos pelo tal “futuro da música”, o mago, mestre supremo Georgio Moroder topou produzir “Flaunt It”, o tão aguardado álbum de estreia. Que até não foi mal nas paradas inglesas, chegando ao décimo lugar, e que fez sucesso inesperado no Brasil por conta da inclusão de “Love Missile F1-11” na trilha sonora do clássico “Curtindo a vida adoidado” – eles chegaram a vender mais por aqui que na Inglaterra, e contrataram o então onipresente Liminha para produzir uma música do próximo álbum, “Dress for excess”. E a capa era das coisas mais lindas, um festival de cores inspirado na cultura pop japonesa com aquele maravilhoso robô gigante.

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Mas a verdade, a dolorosa, dura e desesperadora verdade, ah migo leitor e ah miga leitora, é que “Flaunt it” não é apenas ruim ou muito ruim, ou somente péssimo. É pavoroso, uma abominação sonora que dura pouco mais de 41 dolorosos minutos. Sabe aqueles discos que não ganham muita atenção em seu lançamento mas que melhoram com o tempo, ou discos bons que envelhecem mal? O debut do Sigue Sigue Sputnik é nenhum dos dois, é pior: é e sempre foi uma grande porcaria que se torna cada mais insuportável a cada audição – e olha que me torturei umas cinco vezes nas últimas semanas só para tentar encontrar algo de bom.

Eles tentaram e até conseguiram ser diferentes (ainda que no mal sentido), misturando alguns riffs de guitarra típicos da época, batidas eletrônicas, sintetizadores e anúncios comerciais (!) de 30 segundos entre as músicas. Mas o resultado é desastroso, pois a impressão que “Flaunt it” passa ao torturado ouvinte é de que banda e produtor atiraram para todos os lados – errando o alvo e matando as vítimas.

“Love Missile F1-11” é a síntese desse tudo-ao-mesmo-tempo-agora musical, usando e abusando de samples e todos os efeitos sonoros possíveis que havia no estúdio, fossem eles sons de explosões, metralhadoras, vozes aceleradas, repetidas, com eco, Pato Donald descendo o elevador (procure “Trote na Universal” no YouTube e você vai entender)… As sete faixas seguintes também não ajudavam, incluindo ainda citações vergonhosas de música clássica na receita. “Rockit Miss USA”, “Twenty First Century Boy”, “Teenage Thunder” e “She’s my Man” são (péssimos) exemplos da desgraceira sonora da banda, mas nada é mais insuportável que “Massive retaliation” – ô coisinha lazarenta que dura intermináveis cinco minutos.

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Pois bem. A banda implodiu em 1989 após o fracasso de “Dress for excess”, e Tony James ainda foi premiado com o convite para o trevoso Sisters of Mercy. O Sigue Sigue Sputnik até ensaiou uns dois ou três retornos, chegou a gravar outros dois álbuns, mas aí ninguém achava a menor graça nos caras e o futuro já havia chegado com coisas muito melhores e mais interessantes de se ouvir.

Passados 32 anos do lançamento de “Flaunt it”, lembrar do Sigue Sigue Sputnik é ter a certeza que certas coisas são tão ruins que podem até piorar.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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