Oi, gente.
Há muito tempo carrego comigo a sensação de que 1991 foi o melhor ano da história da música, capaz de superar até mesmo o 1967 que teve álbuns do Beatles, Stones, Velvet Underground, Cream, Leonard Cohen, Pink Floyd, Jimi Hendrix e toda uma turma que estabeleceu o rock como o gênero musical do século passado.
Porém, como havia escrito lá em 2016, o ano de 1991 teve um volume absurdo de clássicos lançados em apenas 365 dias. Foi o ano do Nirvana, My Bloody Valentine, R.E.M., Massive Attack, The Orb, A Tribe Called Quest, U2, Teenage Fanclub, Metallica, Red Hot Chilli Peppers, De La Soul, Primal Scream e outros tantos nomes num raro momento de inspiração. Tivemos a explosão do grunge, o surgimento do trip-hop, veteranos lançando alguns de seus melhores trabalhos, arriscando novos caminhos musicais, e algumas estreias que impactaram a música e que reverberam até hoje em muita coisa nova que se ouve por aí.
É tanta coisa boa, mas tanta coisa boa mesmo, que adiantamos a série este ano, ampliamos o total de álbuns celebrados para 40 e teremos um capítulo por mês. A primeira parte da série tem clássicos do My Bloody Valentine, A Tribe Called Quest, Swans, Pearl Jam e Massive Attack, mas os meses seguintes não ficarão atrás, pode confiar.
Vamos então embarcar na nostalgia, no caso dos mais velhos, ou no bonde das (re)descobertas para a turma que nasceu ontem. Afinal, o streaming está aí para isso mesmo: ajudar a resgatar os clássicos do melhor ano da história da música.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
My Bloody Valentine, “Loveless”
Essencial. Perfeito. Um dos melhores e mais influentes álbuns de todos os tempos.
Fim. Até semana que vem.
Tá, vamos escrever um pouco mais. Quem afirmar que “Loveless” foi o melhor álbum de 1991, superando Nirvana, Primal Scream, U2, Teenage Fanclub, jamais seria leviano. O segundo trabalho do My Bloody Valentine é coisa de se colocar em museu, entrar na grade curricular de escolas e faculdades, obra-prima suprema do shoegaze e influência direta de 92 bilhões de bandas que surgiram depois.
É fruto da obsessão de Kevin Shields, que passou quase três anos enfurnado em 19 estúdios experimentando todas as sonoridades e efeitos possíveis em sua guitarra, a um lendário custo de 250 mil libras. O resultado foi o inimitável caos sonoro de guitarras sobrepostas, em loop, distorcidas e outros efeitos mil unindo peso, distorção, delírio e vocais etéreos. Um verdadeiro sonho pop graças a músicas como “Only shallow”, “When you sleep” e “Soon”.
Ouça a 150 decibéis e morra surdo, porém feliz.
Massive Attack, “Blue lines”
Álbum de estreia do Massive Attack, “Blue lines” chegou às lojas em 8 de abril de 1991 e se tornou a pedra fundamental para o trip-hop, com Robert Del Naja, Andrew Vowles e Grant Marshall apresentando um trabalho que segue absurdamente atual mesmo quando ouvido três décadas depois.
A estreia do grupo da cidade britânica de Bristol mistura hip-hop, soul music, música eletrônica e dub em clássicos como a maravilhosa “Unfinished Sympathy”, “Safe from harm”, “Five Man Army”, a versão para “Be thankful for what you’ve got” (William DeVaughn) e a faixa-título.
O time de vocalistas convidados era absurdo de bom: Horace Andy, Neneh Cherry e o ex-integrantes Shara Nelson e Tricky. Com um timaço desses, não tinha como dar errado.
Swans, “White Light from the Mouth of Infinity”
O combo musical norte-americano de Michael Gira não é dos mais conhecidos por essas bandas, mas a internet está aí para corrigir algumas injustiças, pelo menos em relação a uma das bandas mais peculiares surgidas nas últimas quatro décadas, com uma trajetória musical do tipo que se escreve por linhas retas, tortas, que se cruzam mas que também divergem quando menos se espera.
Sétimo álbum da banda, “White Light from the Mouth of Infinity” foi o primeiro após o único trabalho lançado por uma grande gravadora e marcou outra mudança na sonoridade do grupo, desta vez mais acessível ao público em geral – porém no padrão Swans de “música acessível”. O álbum tem grandes músicas, como “Miracle of love”, “Power and sacrifice”, “Will we survive” e “Love will save you”. É um disco que a galera pode dizer que é post-punk, gótico, pop, folk, blues até mesmo rock. Tem que ouvir para entender – e gostar.
A Tribe Called Quest, “The Low End Theory”
O trabalho de estreia do grupo já havia entrado na nossa lista de clássicos de 1990, e Q-Tip e seu time mantiveram o nível em “The Low End Theory”, album que teve sua qualidade cada vez mais valorizada com o passar dos anos.
Para quem quiser conhecer os primórdios do chamado alternative hip-hop, o mapa do tesouro está aí. O grupo radicado em Nova York misturou as batidas e rimas do rap com o jazz em um trabalho magistral, marcado pelas críticas sociais, humor e a parceria nas rimas entre Q-Tip e Phife Dawg, resultando em músicas do nível de “Verses from the abstract”, “Scenario”, “Chck thehyme” e “Jazz (We’ve got)”.
Pearl Jam, “Ten”
Claro que não faltaria grunge na parada. “Ten”, álbum de estreia do Pearl Jam, é prova de que o grunge, mais que um subgênero do rock, foi um rótulo para englobar tudo o que vinha de Seattle, e o que vinha lá do Noroeste dos Estados Unidos era bom demais.
Formado a partir das cinzas do Mother Love Bone, o Pearl Jam demorou mais que o Nirvana para explodir, mas a supernova que se seguiu rendeu nada menos que 20 milhões de cópias vendidas. A fusão musical de rock pesado dos anos 70 com o pós-punk foi o casamento ideal com os vocais e carisma de Eddie Vedder, inspirado em suas letras sobre depressão e abuso. Daí saíram clássicos como “Alive”, “Even flow”, “Jeremy” e “Black”.