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Batman e o peso do vil Metal

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Oi, gente.

“Noites de Trevas: Metal”, uma das mais comentadas histórias do Batman nos últimos anos, finalmente encerrou sua publicação no Brasil, via Panini, então é hora de escancararmos nossas considerações consideráveis a respeito do mais recente trabalho do roteirista Scott Snyder e do desenhista Greg Capullo com o Cavaleiro das Trevas. A saga, publicada nos EUA entre julho de 2017 e maio de 2018, está inserida no processo de “Renascimento” da DC – que volta quase todo o status quo do universo da editora pré-“Ponto de Ignição” – e chegou por aqui num encadernado publicado em cinco volumes, de junho a outubro, além de duas edições especiais com os onipresentes tie-ins.

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Depois de lermos toda a passagem de Snyder/Capullo com o Batman n’Os Novos 52 (comentada neste espaço em 17 de outubro), enfim encaramos “Noites de Trevas: Metal” e posso dizer que acompanhar o trabalho da dupla com o herói para entender o que se passava na história, além de coisas mais antigas como “Crise Final”, “Crise nas Infinitas Terras” e até mesmo “Sandman” (quem diria!) foi importante, mas a falta desse conhecimento enciclopédico pode afastar leitores não familiarizados com o Universo DC. Ao final, podemos dizer que a saga tem seus bons e maus momentos, o que explicaremos mais para a frente. Antes, precisamos explicar o básico da série.

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Os personagens mais importantes para entender “Noites de Trevas: Metal” são o Batman, claro, e também Carter Hall, o Gavião Negro, que durante sua vida tem anotado em diários suas investigações a respeito de metais divinos que chegaram à Terra e que têm ligações com o conflito ancestral entre quatro tribos: dos lobos, dos ursos, dos pássaros (a Corte das Corujas?) e dos morcegos (o Batman?). E que tudo isso está conectado a uma ameaça de longuíssima data, escondida em trevas que – se invadissem nosso mundo – provocariam destruição e mergulho eterno na escuridão.

Ah, sim, o Batman. Durante muitos anos, Bruce Wayne também investigou os tais metais divinos, matéria escura e a relação entre eles, descobrindo tarde demais que estava servindo de peão para os planos do demônio Barbatos, que habita o então desconhecido Multiverso das Trevas.

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(Expliquemos: o atual Multiverso DC possui 52 realidades alternativas conhecidas, e esse Multiverso das Trevas, abaixo da realidade conhecida, é onde são forjados outros universos. Caso sejam imperfeitos, terminam destruídos; só que Barbatos matou o criador desses universos e manteve essas novas realidades nas sombras. E elas têm por característica ser Terras em que tudo dá errado para o Batman, que se corrompe, enlouquece, mata geral e lances do tipo.

Como dá pra perceber, Batman é a figura central dos planos de Barbatos, que armou para usá-lo como o portal que abriria passagem entre o Multiverso das Trevas e o universo “principal” da DC e destruir tudo, botar tudo no breu e assim ser o manda-chuva de todos os universos até Uberlândia. Durante Os Novos 52, Batman foi impregnado com alguns dos metais que permitiriam a Barbatos abrir o tal portal (o que acontece quando o herói tenta voltar no tempo para impedir os planos do vilão) e invadir o Multiverso com seus Cavaleiros das Trevas, os Batmen sombrios e corrompidos que adquiriram os poderes do Lanterna Verde, Aquaman, Ciborgue, Ares, Apocalypse e Flash, além do Batman Que Ri, que “ganhou” a insanidade do Coringa ao matar o arqui-inimigo.

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Enfim. Barbatos invade o Multiverso junto com seus Cavaleiros, prende Batman e Superman no Multiverso das Trevas e vai afundando nosso planeta na escuridão, e cabe aos outros heróis lutarem de forma desesperada para impedir os planos do demônio, sem saber muito bem como fazer isso.

Explicação dada, comentemos o que há de bom e ruim em “Noites de Trevas: Metal”, começando pelos pontos fortes. Scott Snyder, pelo menos em relação ao Batman, sempre teve uma predileção pelo absurdo, pelo exagero, e isso a série tem de sobra. Afinal, os heróis enfrentam uma ameaça de proporções inconcebíveis, surgida de um lugar até então desconhecido, com personagens obscuros/bizarros etc e tal.

O roteirista também tem méritos por ter plantado as sementes de “Noites de Trevas…” desde o início de sua passagem com o Batman, lá em 2011, com os tais metais presentes em arcos como “A Corte das Corujas” e “Fim de jogo”. Também há reverberações de eventos acontecidos há muito tempo, como “Crise Final” e “Crise nas Infinitas Terras”, inclusão de elementos de “Sandman” e “The Authority”, mostrando conhecimento da cronologia DC e como ela pode ser bem amarrada. E não faltam nomes de peso no roteiro e desenhos participando do projeto: Jeff Lemire, John Romita Jr., James Tynion IV, Grant Morrison, Jim Lee, Bryan Hitch, Andy Kubert, Howard Potter, Ethan Van Sciver, Frank Tieri. E tem o Batman Que Ri, claro, disparado o melhor Batman sombrio mostrado na saga.

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Mas “Noites de Trevas: Metal” tem seus vários defeitos. Para começar: a saga não deixa de ser mais um dos 387451³ “grandes eventos” criados pela DC Comics desde “Crise nas Infinitas Terras”, sempre com uma ameaça gigantesca e desconhecida por 99,999999567% dos personagens. E aí certos elementos se repetem: um herói é elemento-chave para os planos do vilão, geralmente ultramegapoderosoüberdestruidor, que sai arregaçando com os heróis, com a Terra, o universo e o que mais surgir; os mocinhos enfrentam uma situação desesperadora, o fim fica cada vez mais próximo (e às vezes até se concretiza).

E de repente, não mais que de repente, descobre-se que existe uma falha nos planos do vilão, geralmente um personagem mega importante que estava meio que à margem/escondido de tudo e serve de deus ex-machina; personagens/acontecimentos de sagas antigas que têm efeitos nos atuais eventos, mas só os leitores fiéis entendem a importância disso; muita coisa acontece, e como é tudo ao mesmo tempo agora a gente fica se perguntando “quando isso aconteceu?” quando certos plots são retomados; e a óbvia vitória dos heróis no final, e tudo volta a ser como antes – ou mais ou menos, afinal, esses “eventos” têm por característica “resetar’ o Universo DC.

A saga escrita por Scott Snyder tem todos esses problemas, e aí é preciso ser especialista no Universo DC para entender tudo, pois há personagens que surgem do nada; outros que somem, são esquecidos e aí aparecem como salvadores da pátria; e, repetindo, ser o rei da cocada preta na cronologia da editora é praticamente obrigação, pois quem não leu todos os crossovers da editora (o que é meu caso) vai ficar perdido em determinados momentos da saga, e isso – não custa repetir – pode afastar muita gente interessada.

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Mas vamos ao principal: mesmo que “Noites de Trevas: Metal” fosse a melhor coisa desde o pão de forma fatiado durante o início e o meio, QUE DESGRAÇA DE FINAL É AQUELE? SÉRIO, AONDE SCOTT SNYDER ESTAVA COM A CABEÇA? Sem querer dar spoilers, mas a série termina de um jeito que qualquer cidadão fica muito, mas muito frustrado mesmo, perguntando por qual motivo perdeu tanto tempo em sua vida acompanhando a história.

Por essas e outras, “Noites de Trevas…” talvez seja mais indicado para quem é leitor fiel da DC Comics, daqueles que acompanham a cronologia fervorosamente, ou muito fã do Batman. Para leitores ocasionais, pode ser um misto de diversão e (alguma) confusão – mas, provavelmente, ódio primitivo ao ler as páginas finais.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

P.S.: Este seu amigo continua na labuta jornalística, mas a coluna entra num breve período de recesso para aproveitar rabanadas, chocotones e outros tipos de gordices – com ou sem uva passa, que pra gente tanto faz. Retomamos as atividades em 9 de janeiro de 2019.

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