Oi, gente.
Masoquismo voluntário tem limite, e o último episódio de “Game of Thrones” é a prova disso. George R. R. Martin e sua gangue são bastardos sem coração muito mais cruéis que Cersei, Ramsey e aquela ruiva belzebu juntos, então “Valar Morghulis” para a série. Adeus, até nunca mais. Vou me concentrar em coisas tão legais e imperdoavelmente atrasadas (“Breaking bad”) ou muito, mas muito mais divertidas. O mundo está chato demais, intolerante demais, com Eduardo Cunha demais, então chega de GoT aos domingos: melhor assistir a “Silicon Valley”, que está em sua segunda temporada e passa na mesma HBO sem muito alarde.
A série criada por Mike Judge (de “Beavis and Butt-Head” e “Idiocracy”) e os miguxos Dave Krinsky e John Altschuler é a melhor comédia nerd da atualidade, ah migos e ah migas, mais interessante que o vai-não-vai de “The Big Bang Theory”, descontadas as diferenças (SV aposta no humor do constrangimento e é mais “pé no chão”; TBBT tem plateia, risadinhas na hora “certa” e vive de referências à cultura pop).
“Silicon Valley” é quase um reality show do absurdo, ao retratar com ironia o que pode acontecer no Vale do Silício, na Califórnia, onde Mike Judge trabalhou no final dos anos 80 – e que já havia inspirado um dos filmes mais legais da década de 90, “Como enlouquecer seu chefe”. Richard Hendricks (Thomas Middletich) é o sujeito que desenvolve um revolucionário algoritmo (o Flautista) para compactar dados e é convencido a não vender sua ideia para a empresa em que trabalha, a Hooli. Ele e mais alguns amigos programadores se instalam na casa do também programador (e maconheiro de todas as horas) Erlich Bachman (T. J. Miller), que ficou milionário ao criar um aplicativo e decidiu usar a grana para desenvolver uma incubadora de novas ideias.
A série mostra situações típicas do pega-pra-capar capitalista: incompetentes que são alçados a cargos de comando, disputas judiciais por propriedade intelectual, tentativas de roubo de ideias, novos-ricos completamente fora da realidade, a falta de noção de pensar que qualquer ideia pode virar um aplicativo (mesmo que ele possa ser usada por pedófilos), vitórias e derrotas corporativas, burradas monumentais e uma galeria memorável de personagens absurdos. Pena que Christopher Evan Welch, que interpretava o Peter Gregory, tenha morrido antes mesmo da estreia da primeira temporada, mas a galera de “Silicon Valley” soube segurar as pontas. Só ficou meio limão limão menos excêntrica.
Epílogo
Reminiscências da coluna da última sexta-feira: sabe qual filme estava em exibição na madrugada desta quinta-feira no Paramount Channel? “Barfly – Condenados pelo vício”. É o passado que nos persegue, ah migos e ah migas. Fiquem ligados, vai que rola outra reprise.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.