Oi, gente.
Como ainda não nos sentimos seguros para ir ao cinema, consegui assistir a “Eternos” apenas na última quarta-feira. Foram mais de dois meses de espera, fugindo de spoilers e com o sentimento de “como queria assistir a esse filme” toda vez que passava o comercial na TV. Também foi preciso evitar ler as críticas e ouvir os podcasts sobre o longa, no máximo pegamos pelas beiradas alguns comentários pelas redes sociais.
Filme assistido, podemos dizer que curti o 26º longa do MCU (Universo Cinematográfico Marvel). Com a credencial de ter faturado os Oscars de melhor filme e direção ano passado com “Nomadland”, a diretora Chloé Zhao tinha um desafio parecido com o de James Gunn em “Guardiões da Galáxia”: apresentar uma penca de personagens desconhecidos do público. Se por um lado ela tinha a vantagem de embarcar no busão da Marvel quando o MCU já se tornou a maior franquia de Hollywood, por outro havia a desvantagem de ter que lidar com nada menos que dez novos protagonistas, encaixar Dane Whitman (Kit Harington), o Cavaleiro Negro, na jornada, e deixar pontas soltas para futuros filmes.
Encarar a missão obviamente não era fácil e isso cobrou um preço em “Eternos”, que acabou esticado um pouco além da conta para tentar desenvolver de forma satisfatória as tramas e essa dezena de personagens – ou pelo menos a maioria deles; enquanto Sersi (Gemma Chan) e Ikaris (Richard Madden) tiveram mais destaque, Thena (Angelina Jolie), Druig (Barry Keoghan) e Makkari (Lauren Ridloff) não foram tão bem aproveitados. E com certeza teríamos ficado mais felizes se o longa tivesse dado mais minutos de tela para Phastos (Brian Tyree Henry) e Gilgamesh (Ma Dong-seok). De todos os Eternos, a Duende (Lia McHugh) foi a mais fraquinha, e o namoro entre Dane e Sersi foi tão sem sal quanto o casal formado por Jon Snow e Daenerys em “Game of Thrones”.
Voltando ao roteiro, a trama de heróis que precisam se reunir para impedir o fim do mundo é bem batida, e a facilidade com que os personagens rodam o mundo é muito “Transformers” para meu gosto; um Eterno capaz de teleportar todo mundo teria acabado com esse incômodo. Outro ponto fraco é o plot secundário dos Deviantes, que são essenciais dentro da mitologia criada nos anos 70 por Jack Kirby e acabaram servindo apenas de muleta para o roteiro.
Outro lance que provocou algum incômodo foram os efeitos especiais quando os Eternos materializavam seus poderes. Parecia faltar “peso” em alguns efeitos, como nas armas usadas pela Thena, mas acredito que seja porque eles tenham sido pensados para o 3D no cinema. E faltou um visual que fosse mais próximo ao das HQs de Jack Kirby, como Taika Waititi fez em “Thor – Ragnarok”.
Mas chega de falar dos defeitos, vamos às muitas qualidades de “Eternos”. Os filmes do Marvel Studios precisam seguir uma “cartilha” para se encaixarem na continuidade do MCU, e por isso tem sido normal a contratação de diretores que aceitem não ter tanta liberdade criativa assim. No caso de Chloé Zhao, porém, dá para perceber que a cineasta conseguiu imprimir sua assinatura na produção, mesmo que obviamente tenha cedido em algumas partes.
O filme é lindo de se ver, com a diretora aproveitando vários dos cenários a céu aberto, e não tem aquele ritmo acelerado da grande maioria dos filmes de super-herói. Ela não tem medo de deixar a história mais lenta quando preciso, principalmente nos momentos em que os Eternos precisam reencontrar os membros espalhados pelo mundo e debater suas diferenças. As cenas de ação, que poderiam ser o grande problema para uma cineasta oriunda do cinema indie, são muito boas. A sequência de abertura é um espetáculo, e ela aproveita da ideia de os Eternos terem um entrosamento de milhares de anos para colocá-los em ótimas lutas contra os Deviantes.
Outro ponto positivo e surpreendente do filme foi a divisão entre os heróis por causa das visões diferentes a respeito de cumprimento do dever, responsabilidade e comprometimento, e ver que eles não eram exatamente os mocinhos da história, como sempre acreditaram. Os trailers davam a entender que os heróis seriam um bando de pessoas absolutamente nobres e bem-intencionadas, mas não é bem assim: rola muita discordância, ressentimento e até mesmo inveja entre eles.
Há entre os Eternos quem tenha se afeiçoado aos seres humanos e seja capaz de descumprir ordens para ajudá-los, até mesmo questionando as motivações dos Celestiais, mas também temos quem coloque o dever acima de tudo, e pelo menos dois personagens deixam claro que discordam da ordem do Celestial Arishem de que o grupo não se envolva nos assuntos humanos quando os Deviantes não estão envolvidos.
O lance, agora, é esperar que todos esses heróis retornem em uma continuação. Mesmo que alguns não tenham sido bem desenvolvidos ou recebido as melhores escolhas na hora de montar o elenco, os Eternos abrem novas possibilidades no universo cósmico do MCU. Vamos ficar na torcida para que o segundo longa não demore, e que alguns deles apareçam nos filmes do Thor e dos Guardiões da Galáxia.
Além de assistir a Eternos, terminamos a sexta e última temporada de “The Expanse”, uma das melhores séries de ficção dos últimos 20 anos, fácil, fácil. Pena que o Prime Video tenha terminado a adaptação dos livros de James S. A. Corey (pseudônimo dos escritores Daniel Abraham e Ty Franck) com apenas seis episódios, deixando em aberto toda a parte do planeta que tem os cachorros aliens que ressuscitam gente e o mistério sobre a protomolécula. Até imaginei que fosse aquele esquema que algumas séries têm adotado de fazer uma pausa na temporada e depois retornar, e fiquei bem #chatiado quando soube que era só aquilo mesmo, boa noite e boa sorte.
Pelo menos tivemos a conclusão da trama envolvendo a luta contra a Marinha Livre de Marco Inaros, que uniu os internos (Terra e Marte) aos habitantes do Cinturão, os belters. Foram episódios muito bons, com reviravoltas, grandes batalhas espaciais, suspense, efeitos especiais de primeira (vamos ignorar que o som não se propaga no espaço) e um series finale de arrepiar.
Por seis anos, “The Expanse” ofereceu aos fãs de sci-fi o melhor da ficção científica numa space opera inesquecível. Certamente vamos sentir falta da tripulação da Rocinante e de tantos outros personagens fascinantes, e vamos torcer por duas coisas: que o Prime Video mude de ideia – pois parece que o serviço detém os direitos de produção por mais dois anos – e resolva retomar a série, e que alguma editora publique as continuações de “Leviatã desperta”, única história da saga já publicada por aqui.
Sonhar custa nada, afinal.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.