Oi, gente.
O universo de “Star Trek” segue em expansão. Depois de “Discovery”, “Picard”, “Prodigy” e “Lower Decks”, foi a vez de “Star Trek: Strange New Worlds” chegar ao streaming no mês de maio, pelo Paramount+. Para alegria dos trekkers, a mais recente série de “ST” confirma o ótimo momento da franquia na telinha, com certeza o melhor dos últimos 30 anos. A necessidade dos grandes conglomerados de entretenimento em apostar nas suas commodities tem feito muito bem a “Jornada nas Estrelas”, que ficou mais de uma década sem ter uma série produzida para a televisão, e agora tem cinco produções para deixar os fãs felizes.
“Strange New Worlds” deve ter agradado a pelo menos duas turmas: quem clamava por uma série que tivesse o mesmo clima da série original (entre outras características, os episódios com o “planeta da semana”) e os fãs que gostariam de acompanhar o capitão Christopher Pike à frente da Enterprise, antes da principal espaçonave da Frota Estelar ser comandada pelo capitão Kirk.
E aqui vale uma explicação para os nãos fãs. “Jornada nas Estrelas” é um raro caso de série que teve a chance de produzir um segundo episódio piloto. O primeiro, “The cage”, foi considerado “cerebral demais” pelos executivos da emissora norte-americana NBC, mas que consideraram o conceito muito interessante, e daí tivemos uma segunda chance para a criação de Gene Roddenberry.
O comandante do primeiro piloto era o capitão Pike, interpretado por Jeffrey Hunter; como ele não quis gravar um segundo piloto, foi substituído por William Shatner, e o capitão foi rebatizado como James T. Kirk. Da tripulação original, aliás, apenas o vulcano Spock (Leonard Nimoy) foi reaproveitado.
É preciso lembrar, ainda, que o piloto rejeitado teve partes inseridas no episódio “The menagerie”, da série original. Para o cânone, ficou valendo que Pike era o comandante da Enterprise dez anos antes dos eventos de “Jornada nas Estrelas” – mais ou menos a mesma época em que acompanhamos as primeiras temporadas de “Star Trek: Discovery”, que preparou o público para a nova série com a participação da Enterprise e parte de sua tripulação em sua segunda temporada.
A decisão foi acertada, como pudemos conferir nos dez episódios da primeira temporada. “ST: SNW” mistura o melhor de dois mundos com seu caráter episódico que, ao mesmo tempo, desenvolve tramas paralelas durante seu primeiro ano de exibição. Em uma escolha arriscada – mas que parece ter sido muito feliz -, a série começa após os eventos do segundo ano de “Star Trek: Discovery”, com o capitão Pike (Anson Mount) já conhecendo o seu trágico destino, e acompanhamos como isso pode afetar suas decisões e, por consequência, o futuro da Frota Estelar e da Federação Unida de Planetas – o que fica ainda mais evidente no season finale, “Uma qualidade de clemência”, que mostra um desfecho diferente para o primeiro encontro cara a cara entre humanos e romulanos, visto em “O equilíbrio do terror”, de “TOS” (a série original).
É preciso destacar, ainda, como Anson Mount foi a escolha perfeita para o papel. Seu Christopher Pike é idealista, valoriza a diplomacia e, sobretudo, o trabalho em equipe, sempre buscando com a tripulação as melhores alternativas para os desafios enfrentados. Outros personagens também são muito bem desenvolvidos na primeira temporada. Conhecemos mais da relação entre Spock (Ethan Peck) e sua noiva T’Pring (Gia Sandhu), e como teve início o crush da enfermeira Chapel (Jess Bush) pelo vulcano. A tenente Uhura (Celia Rose Gooding), ainda cadete, também aparece na produção, que também dá espaço para personagens interessantes como o chefe de engenharia, Hemmer (Bruce Horak), a número dois em comando, Una Chin-Riley (Rebecca Romijn), e a chefe de segurança La’nn “não vamos dar o spoiler do sobrenome’, interpretada por Christina Chong.
De toda a leva deste primeiro ano, apenas o oitavo episódio, “O Reino Elisiano”, pode ser considerado ruim – o que é uma pena, pois o doutor M’Benga (Babs Olusanmokun) é um de meus personagens favoritos. Tivemos ótimos momentos em episódios como o primeiro de todos, “Novos mundos”, e também em “Memento Mori”, “Onde o sofrimento não alcança” e “Aqueles que vagam”, com seu clima parecido com os filmes da série “Alien”.
Para os fãs de ficção científica em geral – e de “Jornada nas estrelas” em particular -, “Star Trek: Strange new worlds” é o tipo de produção que entrega tudo aquilo que curtimos no gênero, seja pelos roteiros, o uso do sci-fi como metáfora para discutir temas atuais, um futuro utópico e a boa e velha ficção especulativa que amamos ver na telinha – e o melhor, com efeitos especiais maravilhosos, que fazem a ficção ficar a meio limão do que poderia ser real.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.