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Maratona de séries, Vol. 1

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Oi, gente.

Faz tempo que não comentamos séries por aqui, correto? Pois chegou a hora de tirar o atraso nesta e na próxima semana, com as resenhas maneiríssimas de alguns dos programas seriados que acompanhamos nos últimos meses. Tem série que acabou, outras que começaram, algumas que estão perto do fim e aquelas que estão no meio do caminho. Tem até coisa que não deveríamos ter assistido por força da lei, mas sabe como é.

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A maioria das séries vem dos serviços de streaming, que parecem ter virado o canal (epa) para lançar algumas das coisas mais originais da televisão e seus derivados midiáticos – prova de que a forma de consumir a telinha mudou e vai continuar mudando.

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Antes de partir para nossas considerações consideráveis, lembramos que nossa playlist no Spotify, “…E obrigado pelos peixes”, já passou das 1.400 canções e oferece 100 horas de boa música. Pode seguir na fé, que somos legais e só ouvimos coisa phyna.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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Fleabag
Phoebe Waller-Bridge, criadora, roteirista e protagonista da série, é a Rainha da P0&&@ Toda. Que mulher, que talento, que história. A década ainda tem mais uns 11 meses pela frente, mas ai de quem disser que “Fleabag” não é uma das melhores comédias dos anos 10 – se não for a melhor, apesar da concorrência pesada (“Veep”, por exemplo). Levou o Emmy, o Globo de Ouro e nossos corações; até pagaríamos boletos pra ela.

Foram apenas duas temporadas, mas suficientes para nos apaixonarmos pela protagonista, mesmo que ela seja desagradável enquanto ser humano em vários momentos (e quem não é?). Mas a moça também sofre, tem um senso de humor ácido, tiradas incríveis, é complicada e (im)perfeitinha, faz do telespectador seu cúmplice, quebra a quarta parede como ninguém – aliás, essa parada rende alguns dos melhores momentos da segunda temporada, quando ela conversa com o “padre gato” (Andrew Scott, o Moriarty da série “Sherlock”).

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Tá lá no Prime Video, são 12 episódios de meia hora, mais ou menos, e DUVIDO que não vá gostar.

The man in the High Castle
Frank Spotnitz, criador da série para o streaming da Amazon, tinha uma tarefa do cão: apesar de ser um clássico do sci-fi, o livro de Philip K. Dick tem pouco mais de 200 páginas, um final em aberto e não explica muita coisa – e mesmo assim a gente gosta. Quatro temporadas e 40 episódios depois, podemos dizer que “O Homem do Castelo Alto” é uma das grandes séries da década, e também uma das melhores adaptações da obra do escritor norte-americano.

Se a premissa provoca arrepios (Alemanha e Japão vencem a II Guerra Mundial; Estados Unidos derrotados e divididos pelos dois países; nazismo reescrevendo a história; judeus caçados até a extinção; negros transformados em escravos etc.), era preciso criar várias tramas paralelas, dar respostas a questões em aberto, viajar na maionese… E veja bem, foi uma viagem das boas.

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Conhecemos universos paralelos, rolaram revoluções, traições, gente com peso na consciência, gente tomando decisão errada sabendo qual era a decisão certa, reviravoltas e, assim como o livro, um final em aberto que poderia muito bem render uma quinta temporada.

Se podemos apontar dois problemas, estes seriam a morte do meu personagem preferido logo no início da última temporada e o fato de que a season finale teve alguns desfechos apressados. Mas nada num nível “Game of Thrones” de decepção, então continuamos felizes.

Mais importante que isso tudo, porém, é o fato de que “The Man in the High Castle” serve de alerta num momento em que as ameaças do fascismo, da ignorância, do preconceito e intolerância se mostram tão presentes.

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Undone
Não lembro a pessoa abençoada que recomendou a primeira animação produzida pela Amazon, mas muito obrigado mesmo assim. Criada por Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg (“BoJack Horseman”), “Undone” mistura elementos de ficção científica (viagem no tempo), filosofia (o que é real?), misticismo e saúde mental (esquizofrenia) para criar uma história nada convencional. Como explicou a própria Kate Purdy, são temas trabalhados por ela em um episódio que escreveu para “BoJack” e os problemas de esquizofrenia em sua própria família.

Vamos à história. A protagonista é Alma (Rosa Salazar, de “Alita: Anjo de combate”), que tem origens latinas e judaicas, deficiência auditiva e um histórico familiar de problemas de saúde mental. Além de uma rebeldia inerente, não está muito satisfeita com a vida, acabou de romper com o namorado, tem uma mãe controladora e não está lá muito feliz com o casamento da irmã. Para piorar, ela tem uma visão do pai (Bob Odenkirk, de “Breaking Bad”) morto há anos, sofre um acidente de carro e fica semanas em coma.

Porém, quando recobra a consciência, ela descobre que pode viajar pelo tempo e espaço – e continua tendo visões do pai, que diz que este é um poder que ela herdou da avó, que todos julgavam esquizofrênica. Ele faz de tudo para que a filha desenvolva seus poderes, pois precisa que Alma volte ao passado para descobrir se sua morte foi mesmo um acidente ou se foi assassinado.

“Undone” ainda tem o barato de ser uma animação que utiliza a rotoscopia, técnica em que as cenas são gravadas com atores de carne e osso e depois retrabalhadas num estúdio de animação. Dessa forma, a história ganha aspectos surreais graças às possibilidades da tecnologia.

“Undone” já tem uma segunda temporada confirmada pela Amazon, então deixe de enrolação e assista.

BoJack Horseman
A sexta e última temporada de “BoJack Horseman” foi dividida pela Netflix em duas partes, e claro que já assistimos aos primeiros oito episódios. E que tristeza saber que a série vai acabar! Sério, não existe animação mais engraçada, triste, contundente, agridoce, inteligente, adulta e humana que as desventuras do cavalo-ator (ou seria ator-cavalo?) em busca de uma redenção que nunca vem. Nem para ele, nem para todos aqueles que cercam o protagonista.

Assim como nas temporadas anteriores, “BoJack Horseman” continua levando seus personagens sempre para um novo lugar, crescendo e aprendendo (será?) com seus erros e acertos, tendo que prestar contas ao passado e encarando o futuro e as agruras da vida adulta. Quem assistiu a episódios como “The new client” ou “The face of depression” já manjou qual é.

E tem, claro, momentos surreais, como a lei que dá aos bilionários a permissão para matar os pobres ou a greve dos assistentes das estrelas de Hollywoo (sim, Hollywoo). Como não amar essa série, a melhor da TV desde o final de “The Americans”?

Legion
Uma das vantagens de pegar um personagem dos quadrinhos praticamente desconhecido é que você tem liberdade total para fazer o que quiser com ele – e, por consequência, criar uma das melhores adaptações das HQs para as telinhas. Foi o que Noah Hawley conseguiu com “Legion”. Do princípio ao fim, a série foi uma viagem alucinada e alucinante com o mutante megapoderoso David Haller (Dan Stevens, mais do que ótimo), filho do Professor Xavier, que lutou contra demônios interiores e buscou a própria sanidade. Não foi uma série fácil de assistir, mas que valeu a pena cada segundo.

Não dá para explicar o que se passou em seus 27 capítulos, então só podemos simplificar dizendo o seguinte: o terceiro ano da série teve viagens no tempo, um vilão (quase) inesperado, ficção científica, Professor Xavier, muita filosofia, maluquices de todo tipo, elenco perfeito, múltiplas personalidades, cenários e figurinos sensacionais, diálogos “putzgrila, que bagulho cabuloso”, mulheres de bigode e com voz de robô, Demônios do Tempo, fotografia deslumbrante, psicodelia, narrativa quie se aproveitou de vários gêneros cinematográficos e… Vixe, é difícil explicar.

Como escrevi semanas atrás, na coluna sobre “Watchmen”, “Legion” entra fácil na lista de três melhores adaptações dos quadrinhos para a televisão. Provavelmente, a mais criativa e surpreendente de todas. E com certeza a mais lisérgica.

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