Oi, gente.
Chegou a hora de dar sequência à nossa série com os álbuns clássicos lançados em 1992. Depois de relembrarmos os trabalhos de Nick Cave, Tom Waits, Morrissey e Lemonheads, viajamos três décadas para celebrar dois estreantes, PJ Harvey e Pavement, além de embarcar na virulência do rapper Ice Cube em seu terceiro álbum e da surpreendente guinada sonora do Faith No More, que lançou um dos discos que mais influenciaram o metal desde então.
Depois de ler nossas breves considerações consideráveis sobre estes grandes álbuns, é colocar para tocar em seu serviço de streaming favorito e ver se estamos certos ou não em curtirmos esses trabalhos até hoje.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
PJ HARVEY, “Dry”
Polly Jean Harvey tinha pouco mais de 22 anos de idade quando lançou, em março de 1992, um dos álbuns mais marcantes do ano. “Dry”, creditado como um disco do trio formado pela cantora, compositora e instrumentista ao lado Robert Ellis (bateria) e Steve Vaughn (baixo), impressionou pela crueza presente nas canções _ uma mistura de pós-punk com blues e indie rock _ e letras, de uma brutalidade emocional que impressionou ainda mais pela juventude da artista inglesa, comparada logo no início da carreira a ninguém menos que Patti Smith. Canções sobre amor, sexo e relacionamentos marcam as 11 faixas de “Dry”, lembrado até hoje pelos fãs de PJ Harvey graças a músicas como a faixa-título, “Shee-la-na-gig”, “Oh my lover”, “Water”, “Hair” e “Dress”, entre outras. Por razões que não sabemos explicar, o primeiro álbum da cantora não está em nenhuma das principais plataformas de streaming musical, mas é possível ter uma ideia do poder de suas composições no disco com as versões demo disponibilizado em 2020.
FAITH NO MORE, “Angel dust”
O mundo começou a descobrir o Faith No More em 1989, com o sucesso de “The real thing”, terceiro trabalho da banda radicada na Califórnia. Seria fácil para o grupo repetir a fórmula do trabalho anterior _ a mistura perfeitinha de metal, funk, rock progressivo e rap _ para vender mais alguns milhões de cópias; “Angel dust”, porém, é muito diferente do seu antecessor _ e acredite, ainda melhor.
Em seu quarto álbum _ o último com o guitarrista Jim Martin -, o quinteto deixou o funk e o rap de lado e investiu no que começou a ser chamado de alternative metal _ mas os sintetizadores e teclados típicos do progressivo continuaram a marcar presença, além da presença inédita de samples _ entre eles dos Beastie Boys, Simon and Garfunkel e “O mágico de Oz”. O resultado foi o maior sucesso comercial do Faith No More, em que faixas como “Midlife crisis”, “Be agressive”, “A small victory”, “Caffeine”, “Land of sunshine” e “Kindergarten” mostram uma banda em seu melhor momento. O vocalista Mike Patton, que havia entrado para o grupo a partir de “The real thing”, dá um verdadeiro show. Por tudo isso, “Angel dust” é considerado um dos álbuns mais influentes da história do metal.
PAVEMENT, “Slanted and enchanted”
O Pavement já havia tentando a sorte com três EPs, que tiveram nenhuma repercussão. Foi apenas com seu álbum de estreia que a banda californiana foi idolatrada pela crítica e a pequena, porém fiel, legião de fãs. Lançado pelo famoso selo independente Matador, a estreia do trio Stephen Malkmus, Scott Kannberg e Gary Young (posteriormente despedido por ser porralouca ao extremo) foi gravado em apenas uma semana no estúdio que Young montou em sua garagem, a um custo ridículo de 800 dólares, mas foi o suficiente para que o “Slanted and enchanted” se tornasse um queridinho da turma indie. É claro que um disco gravado em tão pouco tempo e com altas restrições orçamentárias não é um primor de produção e mixagem, mas canções como “Summer babe”, “Trigger cut”, “In the mouth a desert” e “Zürich is stained” superam quaisquer dificuldades técnicas para fazer de “Slanted…” um clássico do indie rock.
ICE CUBE, “The predator”
O terceiro álbum do rapper Ice Cube conseguiu ser ainda mais agressivo que seus trabalhos anteriores, “AmeriKKKa’s most wanted” (1990) e “Death certificate” (1991), e também vendeu ainda mais, consolidando o artista como um dos principais nomes de gênero na época. Apesar de considerado meio limão inferior aos seus dois primeiros discos após deixar o grupo N.W.A., o “The predator” é muito bom e merece ser revisitado ou descoberto por quem gosta de boa música. Com título que remete ao filme “Predador 2” (do qual tirou alguns samples), “The predator” é relato das tensões raciais vividas nos Estados Unidos à época, em especial os tumultos ocorridos em Los Angeles, poucos meses antes, quando três policiais brancos e um hispânico foram inocentados pela agressão ao negro Rodney King. Há espaço, ainda, para uma resposta a quem o acusou de antissemitismo em “Death certificate”, que aparece na faixa de abertura, “When will they shoot”. Mas os grandes destaques do álbum são “It was a good day”, “We had to tear this mothafucka up”, “Check yo self”, “Wicked” e “”Who got the câmera?”.