Oi, gente.
Existe um objeto que faz parte do nosso cotidiano e que dificilmente vai se tornar obsoleto mesmo com a digitalização aumentando seu espaço em nossas vidas: é o carimbo, presente em repartições públicas, consultórios médicos, escolas, boates, até mesmo em casa e no vestuário. É uma tradição que vem desde a pré-história, quando ninguém chamava o carimbo de “carimbo”, e que o artista gráfico e ilustrador Andrés Sandoval relembra em “Caramba! A história secreta dos carimbos”, que acabou de sair pela Editora Todavia.
Em pouco menos de cem páginas, o livro ilustrado resgata a trajetória do objeto que cabe no bolso, tem “nariz” de maçaneta e é ágil, portátil e direto, como Andrés descreve e ilustra na publicação. É uma crônica amorosa e bem-humorada que nos leva às várias utilidades do carimbo, como a marcação em série de ovos; os tecidos Adinkra do povo Akan, na África, que cria estampas a partir de elaborados carimbos; as marcas de mão ou as peças de barro com relevo dos povos pré-históricos; o santo sudário; as pinturas de batalha dos povos indígenas; e nessa lista entram a primeira pegada do homem na Lua e – claro – aquele beijo carregado no batom. Até mesmo a origem da palavra (kindimbu, originária de Luanda) é relembrada por Andrés Sandoval num livro simpático e original.
“Caramba!”, aliás, foi uma das poucas leituras nessas semanas em que os Jogos Olímpicos de Tóquio tomaram conta de nossas noites e início das madrugadas, mas também houve tempo para retomar alguns quadrinhos. Entre eles estão os volumes três e quatro de “Lendas do Universo DC” estrelados pela nossa querida “Liga da Justiça do Buah-ha-ha-ha-ha” que fez tanto sucesso nos anos 80 e que os fãs curtem ou descobrem até hoje.
O trio J.M. DeMatteis, Keith Giffen (argumento e roteiros) e Kevin Maguire (desenhos na maioria das edições) continua afiado, colocando a Liga da Justiça Internacional para enfrentar o Esquadrão Suicida ou o insano Coringa aliado a um ditador típico de republiquetas. Os leitores ainda são apresentados a Lorde Mangá Khan, uma espécie de caixeiro-viajante espacial que obriga parte do grupo a ir para o espaço a fim de resgatar o Senhor Milagre. Os dois volumes também trazem a primeira aparição de Lobo nas histórias dessa formação da Liga, e por fim todo mundo vai parar em Apokolopis. E para completar, temos a primeira aparição da impagável Liga da Injustiça.
Como é de se esperar, a Liga da Justiça de Giffen, DeMatteis e Maguire é como a célebre “TV Pirata”: algumas piadas envelhecem com o tempo, mas é impossível não se divertir com as aventuras, trapalhadas, cretinices e patetices da Liga da Justiça mais engraçada de todos os tempos.
Por fim, continuamos a saga de “Valerian – Integral” (Sesi-SP Editora), desta vez com o quarto volume da série estrelada pelos personagens criados por Pierre Christin (roteiros) e Jean-Claude Mezières (ilustrações) na década de 1960. Com pouco mais de 200 páginas, a edição traz duas sagas divididas em quatro álbuns publicados entre 1980 e 1985. Desta vez, a dupla francesa optou por passar todas as histórias justamente nos anos 80, aproveitando-se de elementos já mostrados em álbuns anteriores, e deixar as aventuras no futuro para os próximos volumes.
Nos dois primeiros álbuns (“Metrô Châtelet sentido Cassiopeia”, de 1980, e “Brooklyn Station Terminal Cosmos”, de 1981), os agentes espaço-temporais Valerian e Laureline encontram-se separados em duas missões para descobrir o mistério sobra a aparição de monstros na França no início dos anos 80. Enquanto ele ficou na Terra a fim de tentar impedir os próximos ataques, ela viajou até os confins da galáxia para descobrir a origem das criaturas. Ao final, é uma trama sobre cobiça por poder do sistema capitalista, além de criticar pseudociências e a exploração de povos menos esclarecidos, ludibriados a partir de suas crenças religiosas e cultura.
O volume quatro da saga traz ainda os álbuns “Os espectros de Inverloch” (1984) e “A cólera de Hypsis” (1985). Desta vez, os protagonistas têm como missão tentar impedir uma catástrofe nuclear impulsionada por um acesso de insanidade dos responsáveis pelos arsenais atômicos. E eles precisam correr contra o tempo, pois uma das consequências de um conflito do tipo é a extinção, no futuro, de Galaxity e do Império Galático Terrestre. Além de tentar descobrir a origem da crise, Valerian, Laureline e seus aliados ainda precisam entender qual o envolvimento do planeta errante Hypsis em toda essa história, que tem a participação especial dos populares picaretas da raça Shingouz. Entre a discussão a respeito de paradoxos temporais e as consequências de nossas escolhas, a história faz uma crítica nada sutil a uma determinada religião que está por aí há cerca de dois mil anos.
Jean-Claude Mezières continua com seu espetacular trabalho de ilustrador nessas quatro edições, enquanto que Pierre Christin apresenta tramas que seguem atuais em seus temas, apesar dos roteiros incomodarem em determinados momentos; algumas histórias começam como se já soubéssemos de situações que não foram apresentadas, deixando o leitor perdido por várias páginas, além de desfechos que seguem a linha “porque é assim” comentada nas resenhas das edições anteriores.
Deixando de lado esses poréns, outro ponto positivo que podemos destacar nas tramas é o maior espaço dado a Laureline, além de seu desenvolvimento como personagem forte e empoderada que assume o controle das ações – o que torna estranha suas demonstrações de afeto em relação a Valerian, que se mostra cada vez mais inseguro, birrento, irritante e até mesmo irresponsável. Sem querer, a dupla de quadrinistas antecipou as mulheres e homens que temos visto andando por aí no século XXI.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.