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Capitão América, o vilão

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Oi, gente.

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Envelhecer nos torna mais céticos em relação a tudo, e isso vale para o mundo do entretenimento – quadrinhos incluídos. Se na adolescência pirávamos com a ressurreição de Jean Grey (que grande besteira fizeram), na idade adulta é só revolta quando nossa ruiva favorita retorna da terra dos pés juntos pela sexta, sétima, oitava vez. E aí já ficamos vacinados quanto às mortes do Superman, Batman, Wolverine, sagas como a do “Homem-Aranha Superior” – aquela em que o moribundo Doutor Octopus troca de corpo com o pobre Peter Parker.

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Por isso, é molezinha imaginar a reação de geral quando foi anunciada em 2016 a saga “Império Secreto”, com a revelação de que o Capitão América sempre foi um agente infiltrado da Hidra: “Ah, estão de sacanagem! Qual será a desculpa para transformá-lo num vilão? E qual o lance ridículo pra fazer tudo voltar ao normal?”

Um dos grandes problemas dos quadrinhos mainstream, amarrados a questões como cronologia, é ter que encontrar novos rumos para seus principais personagens, e uma das principais muletas é virar a vida do infeliz do avesso. No caso do nosso querido Cap, o roteirista Nick Spencer criou uma trama que até agora tem sido não apenas boa, como bem interessante.

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Para começar, não é questão de vermos Steve Rogers mudando de lado de forma gratuita, “ah, agora eu sou mau”. Na verdade, o que rolou foi o Universo Marvel sendo reescrito por Kobik, a Garota Cubo Cósmico (!). Depois de restaurar os poderes do Capitão América, ela é convencida pelo Caveira Vermelha de que os ideais da Hidra são os melhores, coisa e tal, e que o Capitão América seria uma pessoa mais feliz e útil se fizesse parte da organização.

Resultado? Ela muda o passado e as memórias do Cap, que acredita ter sido cooptado pela Hidra ainda na década de 1920, tornando-se seu principal agente infiltrado após ganhar os poderes que o transformaram no Capitão América. Ou seja, nada do jovem idealista e fracote que participa do Projeto Supersoldado, luta na Europa contra Hitler, fica congelado por décadas no Ártico antes de ser resgatado pelos Vingadores e que é o principal símbolo da liberdade.

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Para deixar a parada ainda mais interessante, Nick Spencer deixa aberta uma possibilidade que mexe com a cabeça do leitor: Kobik, na verdade, teria voltado nossa linha temporal ao curso normal, em que o Capitão sempre foi integrante da Hidra, pois na verdade os Aliados é que teriam alterado a realidade com o Cubo Cósmico nos momentos finais da II Guerra Mundial, quando a derrota para os nazistas era certa.

A história até o ponto em que acompanhamos – Steve Rogers manipulando geral, enganando heróis e amigos, desmantelando a Shield por dentro e às portas da Casa Branca com a Hidra – segue como uma boa trama de suspense, espionagem e forte teor político, mostrando todas as manipulações do “Capitão Hidra” para impor uma nova ordem mundial e flashbacks que explicam suas atuais convicções.

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E aí vai outro mérito de Nick Spencer, que não trata o agora ex-herói como um vilão genérico: Steve Rogers faz o que faz porque acredita que a visão da Hidra, de impor a ordem pela força, é a melhor para o mundo, tanto que ele não pensa duas vezes antes de se opor a outros integrantes da organização – principalmente o Caveira Vermelha, que imagina que Steve Rogers é um servo fiel. Nas sombras, o Capitão América vai movendo suas peças lentamente, cooptando novos aliados e enganando os antigos, nem que para isso ele tenha que matar tanto colegas ou inimigos como o Fantasma Vermelho.

Até agora, “Império Secreto” tem muito daquele que talvez seja o melhor filme da Marvel, “O Soldado Invernal”. Uma trama bem amarrada, com uma grande conspiração sendo urdida nos bastidores até que ela seja impossível de ser contida. Resta saber como o Capitão América ditador e fascista – palavra que tem sido usada tão fora de contexto no mundo real, aliás – vai lidar com o fardo do poder e de ter que exercê-lo com mão de ferro ao mesmo tempo em que mantém suas obstinação ferrenha de fazer o que acredita ser o certo.

A Marvel, provavelmente, vai manter o esquema de “mudar tudo para tudo permanecer como era” ao final de “Império Secreto”, mas torcemos para que todo o caminho valha a pena.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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