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Os trem que a gente ouve, Parte 2

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Oi, gente.

Continuamos esta semana com as resenhas de alguns dos mais recentes lançamentos na seara musical. Desta vez, viajamos até a Austrália para acompanhar todo o poder que o Midnight Oil ainda mantém no palco, para depois irmos até a Inglaterra, terra de Elvis Costello e dos grupos Mumford & Sons e Suede. Com estilos e propostas bem diferentes, a maioria entrega trabalhos que merecem ser ouvidos mais de uma vez. Mas a palavra final, claro, fica com nossos queridos leitores e leitoras.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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MIDNIGHT OIL, “Armistice Day – Live at the Domain, Sydney”

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Discos ao vivo não podem ser classificados exatamente como “novos álbuns”, mas estamos falando do Midnight Oil, uma das minhas bandas preferidas em todos os tempos e que voltou a fazer uma turnê mundial após uma separação que durou 15 anos, tempo em que o vocalista Peter Garrett foi eleito deputado federal e se tornou ministro do Ambiente, Patrimônio e Artes da Austrália. Nunca é demais lembrar que Garrett e os Oils sempre foram alguns dos nomes mais engajados na arte quando o negócio é meio ambiente, direitos humanos e tantas causas nobres por aí.

Mas vamos ao álbum, gravado em sua maioria em 11 de novembro de 2017, data em que se comemora o fim da Primeira Guerra Mundial, em Sidney, no encerramento da The Great Circle World Tour, que chegou a passar no Brasil. E que disco, ah migas e ah migos! Já perdi a conta das audições nas últimas semanas, um dos poucos álbuns lançados em 2018 que me deixam com um sorriso no rosto o tempo todo.

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Para quem conhece o Midnight Oil apenas pelas rádios e MTV, “Armistice Day” tem “Blue Sky Mine”, “Beds are burning” e “The dead heart”. Para os fãs de longuíssima data, que conhecem os Oils há quase 30 anos (ó eu aqui), o show contempla praticamente todos os álbuns da carreira da banda e seus clássicos: “Power and the passion”, “Forgotten years”, “King of the mountain”, “Redneck Wonderland”, “US Forces”, “Read about it”, “Dreamworld”, “Sometimes”, sem contar uma versão para “Treaty”, da banda aborígene Yothu Yindi. E é tão bom ver que essa turma de sessentões continua com a mesma energia e fome de palco do início da carreira ou daquela noite em 1993 em que assisti a um show do Midnight Oil no Maracanãzinho.

Gosta de rock mas não conhece os Oils? A hora é agora.

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SUEDE, “The blue hour”

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Uma das três melhores bandas inglesas da década de 90, infelizmente o Suede nunca teve por aqui o reconhecimento que merecia. Uma pena, pois pobre do homem e da mulher que não tiverem a oportunidade de ouvir “The blue hour”, oitavo disco da banda e terceiro a ser lançado desde que o Suede voltou à ativa com o lançamento de “Bloodsports” (2013).

Com produção de Alan Moulder (My Bloody Valentine, Jesus and Mary Chain, Ride e Smashing Pumpkins), o sucessor de “Night toughts” (2016) traça um panorama sombrio, melancólico, desesperado e até mesmo sinistro, quase aterrorizante, que sai da solidão urbana característica da banda e se dirige a locais (literais e metafóricos) não explorados. Musicalmente falando, eles misturam o glam rock, britpop e art rock característicos com pianos soturnos, cordas e coros que evocam paisagens ainda mais cinzentas, por assim dizer.

E o resultado de toda essa evolução temática do Suede são grandes canções em um excelente álbum, mostrando que a maturidade fez muito bem ao quinteto inglês. Basta ouvir canções como “Wastelands”, “Cold hands”, “Don’t be afraid if nobody loves you”, “All the wild places”, “Beyond the outskirts” e a soberba “Flytipping” para ter certeza que “The blue hour” é figurinha fácil na lista dos melhores de 2018.

ELVIS COSTELLO, “Look now”

Declan Patrick MacManus, o homem que há mais de quatro décadas é conhecido como Elvis Costello, continua com sua discografia singular e adorável, que segue caminhos diferentes a cada lançamento ou mesmo dentro do próprio álbum. É o caso de “Look now”, seu mais recente trabalho com a banda The Imposters e o primeiro em oito anos, se descontarmos o trabalho colaborativo “Wise up Ghost”, com o grupo de hip hop The Roots, lançado em 2013.

“Look now” é o retorno de Costello ao pop classudo de suas colaborações com Burt Bacharach, que participou da concepção de duas músicas do novo disco. O cantor e compositor inglês, surgido em meio ao turbilhão do movimento punk, sempre se destacou como um verdadeiro artesão do pop, capaz de criar melodias envolventes e letras que contam histórias que dificilmente se encontram até em bom livros.

E o 30º álbum de Elvis Costello está cheio dessas boas histórias e declarações de amor às grandes canções. É o que o ouvinte vai encontrar em “Unwanted number”, “Mr. & Mrs. Hush”, “Suspect my tears” (que coisa mais linda!), “Under lime”, “Don’t look now” e “Photohgraphs can lie”.
Depois de alguns ótimos trabalhos em que viajou por outros caminhos musicais, como aconteceu nos elogiados “National Ransom” e “Secret, Profane & Sugarcane”, “Look now” mostra Elvis Costello no território mais conhecido pelos fãs, e é muito bom saber que o artista não esqueceu a trilha que levava de volta ao lar.

MUMFORD & SONS, “Delta”

O quarto trabalho do quarteto inglês mostra que o folk “maior que o mundo”, pulsante e vibrante de “Sigh no more” (2009) e “Babel” (2012) definitivamente ficou para trás – e infelizmente isso é ruim. Óbvio que o artista não deve nada a ninguém se pensarmos bem, e se ele acredita que determinado caminho se esgotou e deve procurar algo que o desafie e dê vontade de sair da cama pela manhã, ok, nem todo mundo pode gostar, mas ser artista muitas vezes é isso. É ter o comichão.

“Delta”, porém, não parece disco de uma banda preocupada em sair da sua zona de conforto por não ver mais o que extrair dali. A sensação que fica é de que o Mumford & Sons decidiu apenas procurar ter um apelo mais popular, radiofônico, e daí que o folk energético que conhecíamos virou, em sua grande maioria, um festival de baladinhas pop para casais que vivem num universo habitado apenas pelo Coldplay, Imagine Dragons, James Blunt e outros nomes que preferimos sequer lembrar.

É tudo muito bem produzido, claro, mas parece faltar alma, calor às canções. O primeiro single, “Guiding light”, é prova disso. Com leves traços da banda de outrora, ela vem num crescendo que, quando chega, decide parar na quarta marcha e de lá sai apenas para desacelerar de novo. O restante do trabalho, mesmo em músicas como “Beloved” e “Slip away”, padece dessa necessidade de ser mais do mesmo que assolou o Mumford & Sons. Uma pena.

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